"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Lengalenga popular que se cantava às crianças em idade de aprender a falar e, imortalizada em disco nos anos 80 por uma banda de musica popular portuguesa de Setúbal, os Disto & Daquilo.
O Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, em parceria com o médico Teixeira Gomes de um centro de saúde também do Porto, desenvolveu uma investigação recorrendo a registos, encontrados pelo médico, de antigos pacientes que, entre os anos 50 e 60 do século passado tinham sido submetidos a um tratamento da tinha do couro cabeludo, baseado em radiações à cabeça.
Efectuada que foi uma investigação, para descobrir onde e, como estão hoje essas pessoas (a maior parte encontrada recorrendo à lista telefónica), confirmou-se a relação entre o tratamento usado – raios X – e as patologias que os pacientes vieram a sofrer; tumores da tiróide, pele e cabeça.
Comemoram-se hoje os 150 anos do nascimento de Robert Shephenson Smyth Baden-Powell, para a história como o criador do escutismo.
Confesso que tive sempre alguma aversão, senão mesmo repugnância por aqueles meninos penteadinhos e bem comportados, usando calções faça chuva ou faça sol, sempre dispostos a ajudar a velinha a atravessar a estrada, sistematicamente “acampados” nas portas das igrejas ao domingo de manhã e, sempre na primeira linha das procissões.
Nos meus tempos de menino ser escuteiro era ser menino queque e, só iam para os escuteiros os filhos das “boas famílias”. Nos meus tempos de rapaz – pós 25 de Abril e em pleno PREC – ser escuteiro era ser um betinho e, só iam para os escuteiros os filhos das “boas famílias” e, geralmente associadas aos partidos reaccionários e aos sectores mais conservadores da igreja católica.
(Já não haviam muitas procissões – sinais dos tempos - mas, o acampamento dominical à porta das igrejas mantinha-se, acompanhado agora, pela venda de calendários).
No meu tempo de menino, ser escuteiro implicava andar de caixinha ao peito, nos peditórios da Liga Portuguesa Contra o Cancro; ir à missa ao domingo de manhã e participar nas quermesses da caridadezinha; não poder “ir à laranja” à Quinta de Sant’Ana; não poder ir apanhar pássaros e lagartixas para a Quinta da Rendeira; ser expressamente proibido de descer a Rua Estêvão Liz Velho em carrinhos de rolamentos; não poder mandar bisnagadas de água às raparigas no Carnaval; não ter autorização dos pais para lançar papagaios de papel nas escarpas de Santos Nicolau e, não poder dar respostas tortas ao padre Ramalho, no ciclo preparatório de Bocage, nas aulas de Religião e Moral que eram uma seca.
Nos meus tempos de menino e rapaz, havia sempre a possibilidade de alguém das classes mais desfavorecidas ingressar nos escuteiros – não lhes era vedada a entrada; mas era necessário ter muito estofo para aguentar a chacota dos outros – os “de bem” – e a descriminação encapotada.
Nos meus tempos de menino e rapaz ser escuteiro significava ser “do sistema” que há época se chamava “situação” e, não havia fascista digno do nome que não tivesse o filho nos escuteiros.
Participar nos escuteiros era assim como que uma espécie das actuais Jotas partidárias; uma incubadora para o ingresso na vida pública/ política.
Não sei se foi azar meu ou azar aos escuteiros, ou ambas as coisas; mas ao longo da minha vida, tudo o que vi associado ao escutismo e aos escuteiros, foi sempre uma perversão da ideia base que, levou Baden-Powell a criar o primeiro agrupamento de escuteiros em 1907, ou a escrever Escutismo para Rapazes corria o ano de 1908: Resposta aos graves problemas sociais – desemprego e subnutrição – que empurravam as crianças das classes operárias para violentos confrontos e delinquência nas ruas de Inglaterra.
Baden-Powell que me desculpe e descanse na Paz do Senhor mas, para mim o escuteiro será sempre o menino vestido de parvo e, o chefe, o parvo vestido de menino.
E com um sinal de pista, como o que está desenhado na sua campa em Nyeri no Quénia que significa “Fui para casa”, me despeço.
“Entre 1991 e 2005, as leis anticorrupção estiveram na origem de 20 iniciativas legislativas, entre propostas de lei do Governo, projectos de lei da Assembleia da República, propostas de resolução. Destas, 17 foram aprovadas e três rejeitadas. Hoje, a Assembleia da República volta a discutir, de uma assentada, 15 projectos de lei sobre estes crimes. Do BE ao CDS-PP, todos os partidos representados no Parlamento subscrevem iniciativas legislativas.”
“Quanto mais corrupta é a República, mais numerosas são as leis”
Rebentaram os protestos das populações contra o projecto do Governo de requalificação das urgências hospitalares e que, até prova em contrário, consiste no encerramento puro e simples de umas quantas para, sobrecarregar outras tantas.
Mário Almeida, presidente socialista da Câmara de Vila do Conde que tinha reunião agendada com o ministro Correia de Campos para debater o assunto, vê a reunião adiada por, alegadamente o ministro se encontrar doente.
Digo alegadamente porque, qualquer que fosse a doença que levou ao cancelamento da reunião, não foi contudo impeditiva do mesmo ministro marcar com carácter de urgência, uma reunião com os jornalistas; e de há noite aparecer nos ecrãs de televisão para uma entrevista.
E como nestas coisas de jornais as urgências nunca encerram, lá foram os jornalistas ouvir o ministro dizer de sua justiça.
E que disse o ministro? Não disse, ameaçou nas entrelinhas.
Como o presidente da Câmara de Chaves se “portou mal”, vai levar nas orelhas e, por tabela, toda a população do concelho.
Ficamos assim a saber pela boca do ministro Correia de Campos que, o presidente da Câmara de Chaves “tornou a sua própria vida mais difícil” ao “contribuir para a movimentação”contra o fecho das urgências na cidade; como se não fosse uma das funções para que foi eleito – defender os interesses das populações.
E diz mais Correia de Campos, “o Governo olhará de forma diferente” para este caso em concreto, por o autarca não ter esperado pela reunião agendada para Março; isto se não coincidisse com uma recaída da doença que afectou o sr. ministro….
Edificante!
Post-Scriptum: Depois do ministro Mário Lino ter há uns tempos atrás dito ser um iberista convicto; Correia de Campos, caladinho, trabalha nos bastidores pela integração ibérica.
Encerra a maternidade de Elvas, passando a alternativa a ser Badajoz.
Nalgumas aldeias do distrito de Chaves, o tempo de caminho até ao hospital é 45 minutos; a distância da actual urgência ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, ronda os 70 quilómetros – de Vila Real a Verin em Espanha são 15 quilómetros e, a Orense também do outro lado da fronteira, os quilómetros a percorrer são 50…
Hillary Clinton avisou ontem George W. Bush que, uma intervenção militar no Irão dependerá obrigatoriamente de uma autorização do Congresso.
Estará a candidata democrata preocupada com, a eventualidade de não ser chamada a contribuir com o seu voto favorável, como aquando da invasão do Iraque em 2002?
Segundo o Presidente do Iraque, Jalal Talabani, “foi pedido a muitos membros activos do Exército de Mehdi que saíssem do Iraque. Penso que Moqtad al-Sadr lhes pediu para partirem.” O objectivo será facilitar a aplicação do plano de segurança em Bagdad.
E partiram sem mais nem mais… Entregaram as armas antes de partirem? Partiram para onde? Para o Irão e, quando regressarem trazem o curriculum mais enriquecido com novas técnicas de terrorismo?
“Em relação a uma matéria tão delicada, que pode ter criado clivagens e rupturas na sociedade portuguesa, se procure encontrar soluções equilibradas, soluções ponderadas, que procurem esbater e não agravar essas clivagens.”
Palavras do Presidente da República, Cavaco Silva, no pós-referendo à IVG.
Durante a campanha eleitoral, alguns tentaram que o Presidente exprimisse a sua opinião – se era contra ou a favor da IVG – sem sucesso. Habilmente, o homem que havia sido o mandatário do “Não” em 1998, esquivou-se a tomar posição; como se isso fosse necessário ou até muito importante para influenciar o resultado final.
Mas a esforçada neutralidade de Cavaco Silva não consegue ser mais forte que as suas convicções e os seus ideais e, o homem que ontem falou para a comunicação social, não era o Presidente da República de todos os portugueses; era o cidadão Aníbal Cavaco Silva.
O que está subjacente ao discurso de Cavaco Silva é que, o “Não” apesar de ter perdido nas urnas, ainda pode ganhar na secretaria; o que é muito grave, uma espécie de golpe de Estado.
Quando o “Não” ganhou em 1998; ganhou e ponto final! Não se ouviram os partidários da causa vitoriosa falar em “soluções ponderadas” ou preocupados com “clivagens e rupturas na sociedade portuguesa”. Apesar de só terem ganho por cerca de 120 mil votos de diferença, comparativamente com o referendo de domingo passado em que a diferença foi de cerca de 1 milhão de votos.
Em democracia há uma regra muito simples, mas a mais elementar de todas as regras: As minorias aceitam os resultados eleitorais e “submetem-se” à vontade das maiorias; é para isso que servem as eleições.
Tentar subverter um resultado eleitoral claro e transparente, argumentando com o que quer que seja já é mau; recorrendo à retórica de clivagens e rupturas na sociedade, não é mau – é muito mau!
Quem votou “Sim” ou, quem votou “Não”, votou consciente das opções que estavam em cima da mesa, votou para tentar resolver um problema que existe na sociedade; não votou para clivar a sociedade.
Quem era contra a IVG vai continuar a sê-lo; quem é favorável não vai desatar por aí a abortar só porque a lei mudou. Tão simples quanto isso, dirão alguns.
Não, não é assim tão simples. O Presidente da República também disse que:
“O tempo agora é o tempo da Assembleia da República, não é ainda o tempo do Presidente da República.”
Deixando também bem vincado que, não vai abdicar de todos os poderes constitucionais inerentes ao cargo que desempenha.
Até aqui foi show-off; a verdadeira luta pelo direito à Interrupção Voluntária da Gravidez começa agora.
Post-Scriptum: Interessante a análise efectuada por alguns partidários do “Não” em relação aos 56% de abstenção.
Segundo eles este elevado nível de abstenção deve ser interpretado como gente que está contra a IVG.
Brilhante raciocínio, se englobado numa das muitas anedotas de loiras que por aí circulam! (as loiras que não me interpretem mal).
Quem se absteve, fê-lo porque se está profundamente nas tintas para tudo o que o rodeia; porque se está borrifando para os seus deveres e direitos enquanto cidadão. Só isso.
O lobbying chegou a Portugal; pelo menos de forma legal.
A agência de comunicação LPM, responsável pelas campanhas de José Sócrates em 2005 e de Cavaco Silva em 2006, solicitou a Jaime Gama a criação de uma acreditação permanente para a sua agência, com vista a acompanhar “tudo o que concerne ao processo legislativo.”
Não vejo impedimento de maior se tal vier a acontecer. Como cidadão até prefiro que estas situações sejam feitas às claras e regulamentadas como já acontece noutros países – Estados Unidos, Reino Unido, Polónia, Hungria ou até a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu.
Penso é que o alvo é mal direccionado. Os deputados, por via do sistema eleitoral português, são meras correias de transmissão das decisões tomadas nas cúpulas partidárias – vide os frequentes episódios de substituição de deputados nas bancadas parlamentares.
Seria mais lógico se o lobby fosse efectuado ao nível das direcções partidárias.
Segundo o Diário de Notícias de ontem, “A Direcção-Geral de Saúde está a ultimar um plano estratégico contra a obesidade que deverá ser apresentado pelo Ministério da Saúde ainda este mês. A Plataforma junta, pela primeira vez, medidas de prevenção e tratamento visando adultos e também as faixas mais jovens da população.”
É o regresso de “Os Meninos Gordos”.
Os irmãos Mateus Perrera e Ana Perrera, nascidos na primeira metade do século XIX em Piemonte-Itália e que, devido à sua exagerada obesidade e anormal altura para a idade, fizeram toda a Europa como atracção de circo, perante a admiração das elites reinantes e dos povos das cidades e vilas por onde passavam.
A sua tournée pela Europa começa no dia 12 de Setembro de 1840, na corte da sua cidade natal – Piemonte. Em 4 de Dezembro de 1840 são apresentados ao rei Luís Filipe I de França, seguindo depois para a corte espanhola e portuguesa, onde chegaram à presença da rainha D. Maria II em Lisboa, corria o ano de 1842.
Gravura de Os Meninos Gordos - 1842
“Entre passagens pelas diversas cortes europeias, foram estes verdadeiros «fenómenos» analisados pelos Lentes das Faculdades de Medicina de Paris, Montpellier, Barcelona e Madrid. Provavelmente teriam também, tal como sabemos que sucedeu em Portugal, sido mostrados nas vilas e cidades por onde foram passando, em salas de espectáculos improvisadas, pagando o povo bilhete para os poder conhecer.”
Prospecto da Tipografia Bracarense em 1842: Os Meninos Gordos na Rua do Souto nº 52
Segundo um prospecto publicitando a atracção e, distribuído em Braga, em Dezembro de 1842, Mateus Perrera tinha 11 anos e três meses de idade, pesava 17 ½ arrobas de Espanha (201 kgs) e tinha 5 pés de altura (1, 52 m) mais 5 pés e 6 polegadas de cintura (1, 68 m).
A sua irmã, Ana Perrera tinha 9 anos e um mês de idade, pesava 11 arrobas de Espanha e 8 arretéis (129 kgs), tinha de altura 4 pés e seis polegadas (129 kgs) e de largura de cinta 4 pés e 10 polegadas (1, 47 m).
O seu impacto no imaginário popular das cidades e vilas por onde passaram foi tal que, originou uma espécie de arte popular, traduzida no fabrico de pratos, copos e paliteiros com a reprodução das suas figuras.
Os Meninos Gordos, caneca e prato
Os Meninos Gordos, paliteiro
Este post sobre os famosos Meninos Gordos, foi baseado no excelente trabalho de investigação efectuado pela Dr.ª Isabel Maria Fernandes e, editado em livro pela Civilização Editora.
A propósito do dia que hoje se celebra; já conheci três personagens de nome Valentim e nenhum era santo…
O primeiro Valentim, por assim dizer da minha vida, era um peixe; mais propriamente um “boca-de-fogo”, pertencente à classe dos ciclídeos.
Era mau como as cobras, onde ele passava ninguém tinha sossego e, um dia ao chegar a casa encontrei-o morto no fundo do aquário. Morte por causa desconhecida; foi como interiorizei no meu arquivo cerebral e, para memória futura.
O segundo Valentim que conheci era chefe de estação numa empresa de transportes rodoviários. Um gajo porreiro mas bêbado que nem um cacho! Não havia autocarro que partisse ou chegasse a lugar algum dentro do horário estabelecido.
Acabou despedido sem glória aquando da privatização das Rodoviárias Nacionais.
Por fim, o terceiro e último Valentim; não o conheci, encontrei-o (literalmente) quando fiz uma viagem de inter-rail. Estava – o Valentim – tranquilamente sentado numa cadeira na Piazza del Uomo em Florença-Itália, enquanto um artista de rua lhe desenhava a caricatura a carvão.
Este Valentim, de apelido Loureiro era há época, presidente do Boavista F. C. Abordei-o como se fosse meu amigo de longa data e, como recompensa pela ousadia, recebi um bilhete para o Fiorentina – Boavista a contar para a taça UEFA que se realizava no dia seguinte, mais umas senhas para o Mc Donalds e Pizza Hut, o que para um estudante em inter-rail e a contar todos os cêntimos cai que nem ginjas!
(Não era dia dos namorados e os apitos ainda não tinham cor).