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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

|| Um dia na vida

por josé simões, em 20.07.12

 

 

 

Escolas primárias à frente, com as respectivas batas, brancas ou azuis, conforme. Logo atrás os ciclos preparatórios. Por fim os liceus e as escolas comerciais e industriais. Separados. Nobreza liceal de um lado, plebe comercial-industrial do outro. Respeitinho e noção das hierarquias é muito bonito. E ainda mais a separação dentro da separação. Rapazes de um lado, raparigas do outro. Respeitinho ao marido ainda mais bonito é. À porta da Câmara Municipal uma guarda de honra da Mocidade Portuguesa e uma guarda de honra dos escuteiros ao clero. As escolas todas do concelho. A Praça do Bocage cheia a deitar por fora. Dia de festa. Sua excelência o senhor ministro da Educação chega num espada preto com umas bandeirinhas nacionais de cada lado do capot, logo atrás dos batedores da policia de trânsito. Recebido pelo excelentíssimo senhor presidente da Câmara, avança decidido e com passo largo pelo meio do futuro da Pátria e no meio de uma estrondosa ovação, a mando dos professores. Pára a meio do percurso, dirige-se a um petiz a quem aperta a mão e dá uma palmadinha carinhosa numa bochecha. Era eu. O ministro da Educação do regime fascista de Salazar, da situação como se dizia, escolheu para apertar a mão um filho de uma família do contra, do reviralho. Não dá para ver pelas caras. Não mudou o destino. O meu. E tão pouco o dele, como se viria a confirmar alguns, poucos, anos mais tarde. As coisas são como são.

 

 

 

 

 

 

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