Greve Geral? Não, Greve Privada
Greve Geral? Não. Fazendo aqui um jogo com as palavras – foi uma Greve Privada do Sector Público. E mesmo assim nem todo. É que por mais malabarismos que Carvalho da Silva faça; por mais ilusionismo que Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã consigam fazer, a realidade é esta – é impossível fazer parar todo um país em defesa de mordomias e regalias de alguns instalados no sistema. O que esteve ontem em jogo foi a capacidade de mobilização e resposta da mais conservadora organização de trabalhadores contra qualquer reforma tendente a ajustar e modernizar Portugal face a um mundo cada vez mais competitivo. E Carvalho da Silva sabe isso, e, também sabia os riscos que corria; daí as suas reticências à convocação da greve. Daí também a estratégia delineada que consistia em paralisar o sector dos transportes; o resto vinha por arrastamento. Mas não veio; e, se o PC fosse em termos de funcionamento interno, um partido regido pelas leis da democracia e transparência, hoje mesmo na Soeiro Pereira Gomes estavam a “rolar cabeças” por este tiro no pé.
É que o sindicalismo em Portugal foi sempre uma actividade pervertida no modo e na forma. Quer a CGTP, quer a UGT, sempre funcionaram como correias de transmissão, quando o contrário e que devia ser a regra. A CGTP via PC, a UGT via poder instituído e patronato (recordam-se de Torres Couto e Cavaco Silva primeiro-ministro a brindar com vinho do Porto a criação e engorda do “monstro”?). As reivindicações nascem (ou deveriam nascer) nos sindicatos como forma de pressão ao poder político, mas o contrário sempre foi a norma. As estratégias são delineadas e definidas nas sedes dos partidos e passadas aos sindicatos. Isto, aliado aos dirigentes sindicais vitalícios e desfasados no tempo, são algumas das causas para o descrédito da instituição sindicato aos olhos dos trabalhadores e para a sua cada vez mais fraca capacidade mobilizadora. Até dou de barato que a grande maioria do povo português possa estar descontente, desconfiada ou até mesmo revoltada com as medidas que o Governo está a tomar. Isso é uma coisa; outra coisa completamente diferente é, a generalidade do povo ter a noção de que é necessário mudar, não alguma coisa, mas quase tudo. Foi o que Sócrates percebeu desde o primeiro minuto logo após e tomada de posse como primeiro-ministro, tem sido o grande trunfo do seu Governo, e, por inversa razão, o desnorte de toda a oposição.
Tomem nota da data nas vossas agendas: 30 de Maio de 2007. Ano zero do sindicalismo português pós-revolução de Abril. Para a história fica o dia em que a CGTP/ IN marcou uma Greve Privada em defesa do Sector Público de um Estado ineficaz, despesista e nada competitivo. Não resultou. Daqui para a frente nada será como dantes. Os portugueses estão abertos e disponíveis para a mudança; se faz favor, podemos passar agora à discussão de como ela deve ser feita?
Post-Scriptum: pela primeira vez vi a CGTP não avançar com números gerais; apenas nalguns sectores. Argumentou que houveram pressões; que os contratados; mais os temporários, etc., etc., mas de números… nada. Sintomático. Vir argumentar com os deserdados do sistema, para justificar uma greve falhada, em defesa dos instalados no sistema…