|| Solidariedade

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder"
- Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

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|| Solidariedade

por josé simões, em 10.11.10

"vai debilitar todo o sistema de protecção na saúde, que tem sido solidário"

Não podia estar mais de acordo com os sindicatos: mais de um milhão e 300 mil funcionários e familiares, cidadãos de 1.ª classe, que usufruem de um sistema de saúde sem limites e com reembolsos até 80%, suportado pelos impostos solidários dos outros milhões de cidadãos de 2.º classe, utentes do Serviço Nacional de Saúde, com os limites impostos pelo salário de cada um e a guardar o recibo para “meter” no IRS.

E conseguem dizer estas barbaridades sem corar de vergonha.

(Na imagem Rodolfo Valentino e Agnes Ayres via Museo Nazionale del Cinema di Torino)

3 comentários

De Paulo Anjos a 10.11.2010 às 16:29

Declaração de interesses prévia: não sou beneficiário da ADSE, mas gostava de ser.
Agora, o que interessa. Chamar aos funcionários públicos cidadãos de primeira classe no tom que utilizas é uma ofensa infantil e disparatada. É cada vez mais penoso ver gente que apenas vive dos rendimentos do seu trabalho, como tu, a alinharem pela tese de que os direitos que os outros têm são sempre em excesso e é preciso retirá-los. O pior é quando chegarem aos teus direitos e te disserem que tens demasiada protecção social, que tens de pagar mais no hospital, que és um parasita que vive à custa do estado social. Sabes, estas coisas costumam começar assim. Já conseguiram convencer a populaça de que os desempregados são todos uns mandriões, que não querem é trabalhar e, por isso, essa coisa dos subsídios de emprego é apenas um incentivo à preguiça. A seguir, pode acontecer a ti.
Esta coisa da ADSE é apenas o primeiro passo para descapitalizar o sistema e promover os seguros de saúde privados que correm com as pessoas assim que ficam doentes, o que não deixa de ser irónico. Ou seja, seguros de saúde que não querem clientes doentes.
Pois, bem sei que esta da entrega aos privados é a cassete e tal, mas não deixa de ser verdade por isso.
Já a questão dos impostos solidários tem muito que se diga e tem sido utilizada por muito boa (má?) gente para atacar os direitos que conquistámos. É que os meus impostos, como tu dizes, também servem para pagar, solidariamente, muita coisa que não deviam pagar. Olha, o BPN, por exemplo, ou os museus de Foz Coa, que não me interessam para nada, ou incentivos a multinacionais que armam a tenda e um ano depois se piram para a Roménia, que lá é que é bom e o pessoal não tem ADSE.
Bem sei que já te deixaste disso há muitos anos, mas a verdade é que ainda existem dois lados. Eu estou num deles e não quero ficar na cómoda posição de dar porrada em tudo e todos. Coisas da vida...
Já agora, quando é que passas aqui na praça do Bocage para beber um copo? Bem sei que o Brasileira já acabou, mas ainda há a Adega dos Passarinhos...
De josé simões a 10.11.2010 às 18:14

um comentário maior que o post e o essencial não foi desmentido: há os cidadãos de 1ª que têm ADSE e os de 2ª que têm SNS, com a agravante de serem os impostos dos de 2ª que pagam o sistema de saúde dos de 1ª sem que os de 2ª tenham as mesmas regalias que os de 1ª. É dura a verdade não é? Ou como dizia "o outro": só a verdade é revolucionária. by the way, o seguro já eu tenho e, em quase 25 anos de descontos das vezes que precisei tive de ir ao privado e pagar, além do que já pago em descontos. é que não tenho ADSE...

essa da adega não é mal pensada;)

(não vão para a roménia, vão para a china, daquele post que escreveste a propósito da visita do jintao, onde não há segurança social, nem 13º mês, nem subsídio de férias, trabalhas 18 horas por dia, não há sindicatos nem direito à greve. é o maravilhoso mundo do crescimento económico)
De Paulo Anjos a 11.11.2010 às 11:14

Essa do Jintao não fui eu, mas sim o outro Anjos. Mas parece-me que é uma visão acertada do estado das coisas. E parece-me até que noto uma certa inveja nos “empresários” nacionais pelas “condições laborais” dos chineses, isto é, o que a rapaziada cá do burgo queria mesmo era aplicar aquilo que os chineses aplicam, em nome da produtividade e da rentabilização e essas coisas assim. Ironicamente, em Portugal os que defendem mais os chineses -- o pessoal do PC, claro -- são os que mais combatem o tipo de práticas laborais por eles utilizadas, e os que mais os atacam publicamente são os mais apreciam o milagre económico chinês.
Quanto à ADSE, não excluo, obviamente a necessidade de ajustamentos. Mas parece-me que não se devem combater desequilíbrios atacando os direitos dos outros, só porque os outros os têm. Isso levar-nos-ia à anulação de todos e quaisquer direitos. Não é porque alguns não têm subsídio de almoço que deveremos defender que ninguém o tenha. O contrário, sim, será justo. Essa tem sido, quer queiras, quer não, a luta dos comunistas portugueses há quase um século.
Quanto à adega, julgo que o molho das bifanas continua a ser o mesmo de há uns anos. Por isso é tão bom…

DER TERRORIST

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