|| Burqas em Portugal
Eu ainda sou do tempo em que em Setúbal, mulher casada e “decente”, não saía à rua de cabeça descoberta e cabelo ao vento, dito de outra forma, sem um conveniente lenço como adereço. Saias eram a tapar o joelho e de calças nem sequer vamos falar. Não porque fosse obrigatório por lei, mas porque parecia mal aos olhos dos outros, e parecer mal aos olhos dos outros implicava falatório nas tabernas e nas mercearias e nenhum homem gostava de ser apodado de marido-cabrão-manso, e o marido, cabrão ou não, tinha o direito de bater na mulher porque entre marido e mulher ninguém metia a colher, e era chefe de família e tinha o poder de assinar papéis a autorizar a mulher a fazer o que ele, marido e chefe de família, muito bem entendesse, com a bênção do Estado e da Santa Madre Igreja, Ámen. Não foi há muito tempo, foi em finais de 60, princípios de 70 do século XX, era eu uma criança na escola primária.
Para ser sincero não vejo grandes diferenças entre o que acabei de (d)escrever e as burqas que se querem proibir em França. E que acho muito bem que se proíbam.
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