"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Em Zona de Interesse a páginas tantas assistimos a uma conversa entre Hedwig Hoess [Sandra Hüller], a esposa de Rudolf Höss, director do campo de extremínio, e a mãe, Eleanor Phol [Freya Kreutzkam], onde a segunda comenta que fazia limpezas na casa de uma judia que agora devia estar no outro lado do muro, dentro do campo, e a raiva que teve em não conseguir ficar com as suas lindas cortinas quando a senhora foi deportada. Lá para o final do filme Hedwig recusa abandonar a "qualidade de vida" que tem paredes meias com o campo, numa casa onde chove cinza e se ouve o metralhar das armas e os gritos de sofrimento vindos do outro, com as noites iluminadas a chamas das piras crematórias antes dos fornos terem sido adoptados na "solução final", por causa da transferência do marido Rudolf Höss [Christian Friedel], e quando no início da película já tínhamos sido apresentados a um chá entre as mulheres dos SS destacados onde o tema de conversa eram as roupas e as peles que recebiam da triagem feita a quem a seguir acabava gaseada. E ficámos todos a perceber que aquela "nova elite" que ia purificar a nova Alemanha afinal não passava de escumalha sem cultura, sem maneiras, sem educação, sem ética, ressabiada com as suas origens e que agora se apanhava com poder.
Não vamos a caminho do extermínio de uma raça ou etnia, apesar de vontade não faltar a alguns, mas é inevitável a analogia com um partido pejado de delinquentes - todos os dias notícias de deputados, velhos e novos, a contas com a justiça, que quando a maioria dos eleitos - autarquias, regiões autónomas, Parlamento, abre a boca ou entra mosca ou sai merda, e ainda assim os melhorzinhos com nítidas dificuldades de interpretação e iliteracia - vide participação em comissões parlamentares na última legislatura, com um léxico miserável, ressabiados com uma alegada elite política e cultural que lhes tapa a progressão social e que vêem na nova agremiação um veiculo para ascenderem socialmente. "Agora é que vão ver", devem pensar.
Que Augusto Santos Silva corre o risco de não ser eleito deputado e que se tal acontecer é a primeira vez que um presidente do Parlamento em exercício não é reeleito e que tal é consequência de Augusto Santos Silva ter andado a provocar o Chega na Assembleia da República porque os eleitores não gostaram do que viram. Lá mais para a frente, na avença semanal que tem na televisão do militante n.º 1, Marques Mendes também falou qualquer coisa como "meridiana inteligência política" a propósito de maiorias parlamentares e presidências de comissões e assim. E esta coisa é "conselheiro de Estado".
A Palestinian woman assists an injured man outside al-Najjar Hospital in Rafah, in the southern Gaza Strip, following Israeli bombardment. Said Khatib/ AFP
Ouvir Bernardo Ferrão, na televisão do militante n.º 1 com a maior cara de pau, dizer que o taberneiro, coadjuvado pela Rita, se move como ninguém nas redes e plataformas, dos Facebookes aos TikeTokes passando pelo Tuitas e pelo UotesApes, e que é daí o crescimento exponencial do partido, já que os outros ficaram parados no tempo, agarrados às velhas tecnologias que nem os velhos já usam, depois de termos visto a SIC e a SIC Notícias a todas as horas com o traste em grande destaque por tudo e por nada e ainda a interromperem programação para o ouvir em directo sobre nada e mais alguma coisa. "E agora?" Pergunta a revista Sábado depois da enésima capa com o taberneiro.
Começam agora os exercícios de entretenimento na desmontagem das teses que os votos não foram do PCP para o partido da taberna que, ao contrário do que muitos alardeiam, está aí vivinho da silva e para as curvas, quando a verdadeira questão, no partido da "análise histórica" e do "materialismo dialéctico", aquela questão que vale um milhão, devia ser "porque é o taberneiro a chegar a esse eleitorado e ainda a recuperar algum à abstenção?" e não o PCP, que vai minguando eleição atrás de eleição.
O Twitter de Marcus Santos, Vice-Presidente da Comissão Política Distrital do Porto. Conselheiro Nacional do partido CHEGA. Ex-atleta profissional. Deputado eleito pelo círculo eleitoral do Porto à Assembleia da República. Brasileiro. Estas duas últimas acrescentei eu.
E depois os comentários ao tweet:
"Já que vais “representar” o povo português podias pelo menos esforçar te para falar em português.". "vais estar no Parlamento Português, podes por favor começar a falar em Português, o Português de Portugal. Obrigado". "Vi num video que disseste "Portugal aos portugueses". Porque é que estás num partido português, agora deputado, não sendo português?". "Não nos representas. Desaparece". "Aprende a falar português se quiseres representar os portugueses, é o mínimo que podes fazer.". "Não representas nem Portugal nem os portugueses. Foste um erro de casting, uma má escolha que o partido Chega se vai arrepender e muito. O tempo me irá dar razão. Entretanto por favor, tenta não falar muito na AR, é que só sai merda dessa boca fora.". "Sempre vai ganhar mais que o RSI...". "Bosta!". "volta para a tua terra mas é". "O Tio Tom foi eleito?". "vão ter que levar" o quê, meu senhor??? O senhor foi, realmente, alfabetizado em português? Não lhe causa qualquer rubor se expressar, na terra de Camões, tão terrivelmente?". "Vais limpar as retretes da assembleia??". "Vergonha nacional. Que desilusão, foda-se!". "Pretos para a terra deles.". "completamente patético e vergonhoso". "não nos representas, brasileiro."
E no fim ficamos todos a saber que os comentários não são de trols eleitores do partido da taberna: "Acho piada aos comentários. A malta de esquerda vem toda aqui para aliviar a azia. O melão é tão grande, que até choram!". Atacado e insultado pelo próprios camaradas que afinal são todos da esquerda ressabiada. Que nome é que se dá a isto? Idiotas úteis, parafraseando o chefe.