"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Na "mais velha democracia do mundo" um chefe de Estado não eleito lê o discurso escrito por um não eleito primeiro-ministro.
[Link na imagem: "Britain's King Charles III delivers a speech beside Queen Camilla during the State Opening of Parliament in the House of Lords Chamber, in London, November 7". Leon Neal/ Pool]
Aqueles que advogavam uma maioria absoluta para um Governo forte, à imagem do que acontecia na "Europa civilizada", capaz das imperativas reformas estruturais que iam projectar Portugal para o infinito e mais além, são aqueles que advogam um Governo de coligação, ou de incidência parlamentar, à imagem do que acontece na "Europa civilizada", capaz das imperativas reformas estruturais que vão definitivamente projectar Portugal para o infinito e mais além. São sempre os mesmos como se fossem novos, e andamos nisto vai para 40 anos.
Os que assobiaram e disseram "muito bem!" e "apoiado!" e bateram com os tampos das secretária e apuparam e disseram outras coisas dignas da função de deputado da Nação, foram depois assobiar e apupar os que antes tinham dito “muito bem!” e “apoiado!” e batido com os tampos das secretária e dito outras coisas não menos dignas da função de deputado da Nação.
Com a presença do primeiro-ministro, e restantes membros do Governo, a cada quinze dias e durante uma legislatura, no Parlamento para debate com a oposição, faz algum sentido um debate de O Estado da Nação nestes moldes? Quase 5 horas? Por amor de Deus…
Anda uma pessoa a aprender na escola e a ler em tudo o que é jornal e a ouvir a toda a hora em tudo o que é debate e entrevista que os custos de produção são os factores com maior peso na competitividade das empresas, para isto.
“teoricamente muito estranho” é um Presidente da República de férias agarrado ao Facebook para dizer de sua justiça sobre matéria da competência parlamentar.
A questão já não é ser ou não ser presidente da Assembleia da República, qualquer cidadão pode alimentar o sonho desde que eleito deputado. A questão é quando o cidadão, eleito deputado, não gera consenso dentro do partido pelo qual foi eleito, não gera consenso entre os seus pares, antes pelo contrário, para ocupar um cargo e desempenhar uma função para a qual é preciso consenso. E senso. E, depois das evidências, o cidadão não toma ele próprio a iniciativa de retirar a candidatura e se mantêm quedo e mudo à espera que saia.
Os imigrantes votam 15 dias antes da data marcada para o acto eleitoral e a contagem dos votos é tornada pública 15 dias depois do dia das eleições, e quando já é sabido qual o partido vencedor e que os 4 deputados a atribuir pelos círculos da Europa e Fora da Europa não vão alterar em absolutamente nada a composição do futuro Parlamento, da(s) maioria(s) parlamentares e a indigitação do futuro primeiro-ministro pelo Presidente da República. Entretanto passaram 3 – três – 3 meses desde que o anterior primeiro-ministro apresentou a demissão. Nem o pai morre nem a gente almoça.
"socialistas à frente", "recuperação significativa", "empate técnico", "preferência dos inquiridos", "nem o PS nem o PSD conseguiriam uma maioria absoluta". O que a sondagem não projecta é qual o número de cidadãos eleitores que não se vão dar ao trabalho de se deslocar às assembleias de voto no próximo dia 5 de Junho. Por desinteresse, porque estão no seu direito em não o fazer, por descontentamento para com os partidos, para com o sistema politico-partidário, para com os resultados da governação, ou simplesmente porque sim. E devidamente estratificados por motivações. Não projecta mas devia. Assim resta-nos olhar para trás, para as goleadas cada vez maiores com que a abstenção tem vindo a brindar as formações em jogo nestes 30 e muitos anos de Democracia, somar a isto a crise económica e social e arriscar antever um "saldo negativo", um "intervalo [cada vez maior] de (des)confiança", e uma "taxa de resposta" a apontar para a vergonha de todos os intervenientes.
Verdadeiramente surpreendente seria a preocupação sobre os critérios de escolha dos candidatos a deputados (a começar pelo próprio PS), sobre a falta de ligação dos deputados aos círculos eleitorais pelos quais foram eleitos, sobre a elaboração das listas e sobre a constituição dos grupos parlamentares. Assim parece mesmo o que é: arrumar de vez com os pequenos partidos (CDS/ PP, BE, PCP) e transformar o Parlamento num clube privado de “elite” para o PS e o PSD.