"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Como se não fosse nada temos dois militantes, ex-líderes partidários e apoiantes declarados de uma candidatura nas legislativas de 2024, a comentar em horário nobre, um apresentado como "a opinião que todos esperam" na televisão do militante n.º 1 - Marques Mendes, o outro "analisa a atualidade internacional e traduz os problemas com que nos defrontamos", na CNN Portugal. No pasa nada, é tudo análise independente, isenta e sem agenda.
A verdade é que Marques Mendes entalou Paulo Portas, apanhou-o de calças na mão, como sói dizer. Viu-se forçado a fazer aquilo que sempre fez melhor, manobras de diversão, largar spin e desviar o foco. É toda a sua vida, tem muitos estudos. E por ter muitos estudos acredita ele que o PSD o tem por presidenciável, mesmo o PSD de fraca memória?
A televisão recupera declarações de Santana Lopes, que não há ninguém mais preparado que ele para assumir o cargo de Presidente da República, depois de Marques Mendes assumir que não vai a votos mas que pode ir. Marques Mendes, Santana Lopes, Paulo Portas, Durão Barroso, Passos Coelho, há muita qualidade à direita, dizem e escrevem os analistas comentadeiros da política oca dos joguinhos de bastidores. O doutor Miguel Relvas também disse qualquer coisa sobre o assunto.
"100 jovens que estão aqui para partilhar com muita gente de grande qualidade, dos melhores dos melhores do país" disse Hugo Soares ao arribar à Universidade de Verão do PSD. Alexandre Poço, Álvaro Beleza, Leitão Amaro, Duarte Marques, José Manuel Fernandes, Paulo Portas, Pedro Freitas, entre outros, mais o próprio Hugo Soares, é o que consta no site da tertúlia.
Marcelo, desde o primeiro dia do primeiro mandato, dedicou-se de alma e coração à construção da personagem Presidente, seja pela selfies, por aparecer primeiro que os bombeiros no hipermercado onde tinha caído uma avioneta, por comentar tudo em todo o alinhamento dos telejornais, por aparecer no descarrilamento de um eléctrico da Carris em Lisboa, por convocar o Conselho de Estado para se pronunciar sobre tudo o que não é competência do Conselho de Estado, por aparecer nas flash interview no final do pontapé-na-bola, por convidar Lula da Silva para uma celebração que não era da sua responsabilidade, por dar as sentidas condolências à família do George Michael, tudo, tudo. Parece que se farta de governar e até parece que o Governo anda a toque de caixa do Presidente. E para isso contou, e conta, com a prestimosa cumplicidade dos media e dos comentadeiros com lugar cativo nos media. E se perguntarem nas ruas à imensa maioria do anónimo cidadão, e desligado destas coisas da política do disse que disse, é exactamente isso que responde, Marcelo, o tal, o manda-chuva, o maestro disto tudo. Por isso não é de estranhar que no horário nobre apareçam outros aprendizes de Marcelo, Marcelos dos pequenitos, a deixar escapar que "não é inteligente [António Costa] dizer não, sem mais, ao Presidente" e, por omissão de comentário, ser inteligentíssimo o Presidente passar a vida a insinuar que pode demitir o Governo e rebéubéu pardais ao ninho enquanto vai desvalorizando a palavra presidencial. Como diz o pagode, "siga a marinha!".
[Na imagem "Sir John Barbirolli opens the Edinburgh Festival, 1957", autor desconhecido]
Disse Marques Mendes na avença semanal que tem na televisão do militante n.º 1, sem contraditório, que o preço das casas em Lisboa e no Porto mata o elevador social e que, pasme-se, até conhece quem tenha ido morar para Setúbal por causa disso. Há em Setúbal quem tenha ido morar para o Pinhal Novo por causa do preço das casas, gente que Marques Mendes não conhece, e não são tão poucos quanto isso. Assim como Almada e toda a margem sul explodiu com a fuga de Lisboa pelos mesmos motivos, depois de já ser insuportável pagar um andar desde Benfica a Santo António dos Cavaleiros, era Marques Mendes pequenino e, como é por todos sabido, "em pequenino não conta". Podemos argumentar com o preço elevado da habitação em todo o lado, à sua proporção, agora meter o "elevador social" à mistura, tadinhos dos alfacinhas e dos tripeiros...
Montar um circo mediático do caralho com o regresso de Pedro Nuno Santos à bancada parlamentar, manadas de alegados jornalistas cada qual com a pergunta mais estúpida na boca, digna do maior coice como resposta, dezenas de minutos nisto, merdas que não interessam para nada ao cidadão comum, para dias depois, nos telejornais das noites de domingo, termos os comentadores avençados, cada um com menos vergonha na cara que o outro no outro canal, a concluírem a existência de um partido dividido, dois partidos dentro do partido, o partido do Costa e o partido do Pedro Nuno.
[...] e depois também esta parte de que menos se fala, três crianças que são os filhos deste, deste assassino, ele é um assassino mas as crianças não têm culpa, são afegãs mas são crianças [...]. Marques Mendes, um génio do comentário, a partir do minuto 23:14.
Com a vitória de Giorgia Meloni em Itália assistimos ao regresso da lengalenga de 1922, que "o fascismo é o capitalismo em decadência", balelas ouvidas da boca do controleiro nas reuniões de célula do partido ou lidas à quinta-feira n' "a verdade a que temos direito", sem terem aprendido, nem querem aprender, que o fascismo é a esquerda em decadência, é quando a esquerda se demite, e fazendo de conta que os milhares de socialistas revolucionários, anarquistas, comunistas, anarco-sindicalistas, etc, que passaram directamente para a Falange em Espanha, os Fasci di Combattimento em Itália, ou a Action Française de Charles Maurras nunca existiram, tivemos ontem Marques Mendes, o conselheiro de Estado militante do PSD, na televisão do militante n.º 1 muito preocupado, diria mesmo bué preocupado, com a ascensão da extrema-direita em Portugal e passando completamente ao lado da normalização da extrema-direita em Portugal pela acção de Luís Montenegro, o líder do seu partido, o PSD. É que há fascismos, lengalengas, palas nos olhos e há fascismos mais fascismos que os fascismos. Diz que o militante n.º 1 está furioso com os resultados das audiências. Se calhar é pela honestidade de quem lhe faz o prime time, de Bernardos Ferrões a Zés Gomes Ferreiras e Nunos Rogeiros passando pelos Marques Mendes desta vida.
A páginas tantas, e a propósito do roubo de armamento de um paiol militar em Tancos, diz o Conselheiro de Estado Marques Mendes, na avença semanal que tem na televisão do militante n.º 1 onde desempenha o papel de pantomineiro e que, aos fins-de-semana, reproduz a todas as horas certas a primeira página do jornal do militante n.º 1, que "as pessoas, à mesa do café, as poucas que falam nisto". Está tudo dito. Quem, além da oposição que não a sabe fazer e não tem mais nada por onde pegar, continua preocupado com meia dúzia de granadas e uma caixa de munições a monte?
Sem que ninguém no PSD de Rui Rio lhe dê a ponta de um chavelho de importância e sem que ninguém no Governo da 'Geringonça' lhe chibe aos ouvidos o "exclusivo" para a avença semanal que tem na televisão do militante n.º 1, Marques Mendes, reduzido à sua insignificância, limita-se a fazer o que melhor sabe: inventar, truncar, desinformar. Era dia 1 de Abril.
"Quem prevarica evidentemente tem que ser punido, seja cigano, seja muçulmano, seja um português qualquer normal. O Conselheiro de Estado Luís Marques Mendes no telejornal da SIC pedagogicamente a ensinar ao povo ignaro que em Portugal há portugueses normais e há ciganos e muçulmanos e que um cigano e um muçulmano não podem ser portugueses e que um cigano e um muçulmano não são cidadãos normais
E se agora o cata-vento Passos Coelho, depois do recado dado pelo moço de recados, mudar outra vez de posição para a posição que já foi a sua, assume definitivamente o seu "cata-ventismo", mal grado os outros cata-ventos desta história. Como diz o povo, "quem boa cama fizer nela se há-de deitar". Começou o PDEC, Processo de Despedimento em Curso.