"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A gente podia deitar-se a fazer um exercício simples: imaginar António Costa, na oposição, com Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos, João Galamba e mais uns habituais atrás, logo seguidos de um autocarro cheio de câmaras de televisão e de microfones esticados, a visitar as trabalhadoras na porta da fábrica Triumph, vai para 15 dias, faça chuva ou faça sol. Podíamos.
«Em Fevereiro foi batido novo recorde de registo de incumpridores e até Maio os montantes incobráveis ascendem a 418 milhões de euros, representando já mais de metade (53%) da quantia em dívida em todo o ano de 2014 (790 milhões).»
Depois do índice de desemprego a baixar sem que se dê pelo emprego a subir, temos agora o índice da falência de empresas a cair de ano para ano sem que se dê pelas empresas que nascem para as substituir.
E quando não houver mais empresas para falir vai ser um ano fantástico em relação ao ano anterior porque o número de falências foi zero, o que nos levará então a deduzir que o contexto para as empresas portuguesas, e para a economia, melhorou substancialmente apesar de já não haver nenhuma.
Mais uma loja do comércio tradicional fechada na baixa de Setúbal. É a crise, diz o povo. Uma loja de vestidos de noiva e fatos para casamentos, com mais de 30 anos de actividade. A crise a dobrar. Ninguém casa porque não há casa nem emprego e depois não nascem bebés. "O que é que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal", perguntava o vazio técnico que ocupa a cadeira da Presidência da República como se não fosse nada com ele. Uma potência elevada a outra potência tem por base a mesma e por expoente o produto de expoentes, explicam os matemáticos. "Encaramos a crise como uma oportunidade para a adaptação do nosso modelo económico e para o fortalecimento da economia portuguesa", dizia, aqui há uns tempos, o primeiro-mentiroso. Uma oportunidade para engordar contas bancárias e forrar a papel de jornal as montras dos outros.