Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Escuteiros

por josé simões, em 22.02.07

 Comemoram-se hoje os 150 anos do nascimento de Robert Shephenson Smyth Baden-Powell, para a história como o criador do escutismo.

 

Confesso que tive sempre alguma aversão, senão mesmo repugnância por aqueles meninos penteadinhos e bem comportados, usando calções faça chuva ou faça sol, sempre dispostos a ajudar a velinha a atravessar a estrada, sistematicamente “acampados” nas portas das igrejas ao domingo de manhã e, sempre na primeira linha das procissões.

 

Nos meus tempos de menino ser escuteiro era ser menino queque e, só iam para os escuteiros os filhos das “boas famílias”. Nos meus tempos de rapaz – pós 25 de Abril e em pleno PREC – ser escuteiro era ser um betinho e, só iam para os escuteiros os filhos das “boas famílias” e, geralmente associadas aos partidos reaccionários e aos sectores mais conservadores da igreja católica.

 

(Já não haviam muitas procissões – sinais dos tempos - mas, o acampamento dominical à porta das igrejas mantinha-se, acompanhado agora, pela venda de calendários).

 

No meu tempo de menino, ser escuteiro implicava andar de caixinha ao peito, nos peditórios da Liga Portuguesa Contra o Cancro; ir à missa ao domingo de manhã e participar nas quermesses da caridadezinha; não poder “ir à laranja” à Quinta de Sant’Ana; não poder ir apanhar pássaros e lagartixas para a Quinta da Rendeira; ser expressamente proibido de descer a Rua Estêvão Liz Velho em carrinhos de rolamentos; não poder mandar bisnagadas de água às raparigas no Carnaval; não ter autorização dos pais para lançar papagaios de papel nas escarpas de Santos Nicolau e, não poder dar respostas tortas ao padre Ramalho, no ciclo preparatório de Bocage, nas aulas de Religião e Moral que eram uma seca.

 

Nos meus tempos de menino e rapaz, havia sempre a possibilidade de alguém das classes mais desfavorecidas ingressar nos escuteiros – não lhes era vedada a entrada; mas era necessário ter muito estofo para aguentar a chacota dos outros – os “de bem” – e a descriminação encapotada.

 

Nos meus tempos de menino e rapaz ser escuteiro significava ser “do sistema” que há época se chamava “situação” e, não havia fascista digno do nome que não tivesse o filho nos escuteiros.

Participar nos escuteiros era assim como que uma espécie das actuais Jotas partidárias; uma incubadora para o ingresso na vida pública/ política.

 

 

Não sei se foi azar meu ou azar aos escuteiros, ou ambas as coisas; mas ao longo da minha vida, tudo o que vi associado ao escutismo e aos escuteiros, foi sempre uma perversão da ideia base que, levou Baden-Powell a criar o primeiro agrupamento de escuteiros em 1907, ou a escrever Escutismo para Rapazes corria o ano de 1908: Resposta aos graves problemas sociais – desemprego e subnutrição – que empurravam as crianças das classes operárias para violentos confrontos e delinquência nas ruas de Inglaterra.

 

Baden-Powell que me desculpe e descanse na Paz do Senhor mas, para mim o escuteiro será sempre o menino vestido de parvo e, o chefe, o parvo vestido de menino.

 

E com um sinal de pista, como o que está desenhado na sua campa em Nyeri no Quénia que significa “Fui para casa”, me despeço.

4 comentários

Comentar post