"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Mário Centeno, ministro das Finanças de um Governo, parafraseando a direita radical, constituído, contra a tradição, por um partido que não ganhou as eleições, é candidato a um cargo que legalmente não existe nem é consignado em nenhum tratado europeu, e que, oficialmente, define a política económica dos governos dos diversos estados europeus, eleitos em eleições livres e democráticas. Siga para fim-de-semana.
Morreu o homem que advogava a mão-de-obra barata como forma de criar emprego, e que filosofava só ser possível pagar salários alemães em Portugal quando os portugueses fizessem três ou quatro vezes mais por hora, como fazem os trabalhadores alemães na Alemanha, para onde emigram os portugueses que recusam o modelo de baixos salários e precariedade por ele defendido, para ganharem três ou quatro vezes mais por hora, pagos por empregadores alemães que os preferem como os melhores trabalhadores do mundo e com isto demonstrando por A + B que o problema é a classe patronal portuguesa e não os índices de produtividade de quem empregam. Viveu e morreu com isto.
Capturado pelo poder económico, clientelista e refém dos lobbies, rentista para as majors com o dinheiro dos contribuintes, das cambalhotas quando chamado à pedra pela voz do dono.
Pegamos na deixa do rapazola, alçado a líder da bancada parlamentar do PSD: "esta frase encerra uma verdade", uma verdade de que já todos desconfiávamos desde sempre, que para o PSD, as retribuições, os salários, as pensões, o Estado social, os direitos e garantias, são "coisas comezinhas", são "coisas pequeninas", "que não trazem reforma estrutural" [que não cortam, definitivamente, salários e pensões], das "coisas que não apontam caminhos para o futuro" [que não apostam num modelo de baixos salários e de precariedade] e para isso o PS não conta com o PSD como conta com o BE e com o PCP. O que o rapazola, alçado a líder da bancada parlamentar do PSD, fez nesta entrevista foi medalhar o BE e o PCP e "amesquinhar" e "apoucar" o cidadão anónimo que vive do rendimento do seu trabalho, até eleitor do PSD, e isso "são contas com que o PSD se tem de entender", internamente, e externamente, nas urnas. E só por isso esta entrevista, nesta parte específica, devia passar em repeat todos os dias naqueles blocos "humorísticos" com música a condizer" e que servem de separador aos canais noticiosos no cabo.
Dois anos depois e das trapalhadas com os bancos, herdadas do anterior Governo, resolvidas e com o sistema financeiro estabilizado; com todas as metas estabelecidas cumpridas, sem recurso a extraordinários; com a economia a crescer e as exportações no mesmo sentido; com o défice mais baixo da democracia; com o PIB a aumentar e o desemprego a regredir até aos números de 2008; com o país fora do procedimento por défice excessivo, contrariando as ameaças de Bruxelas ao anterior Governo; com a Standard & Poor’s a reavaliar positivamente a notação do país; com as taxas e sobretaxas anuladas e o rendimento restituído às pessoas e às famílias; com a oposição a brandir os incêndios de Verão, o paiol de Tancos, o jantar no Panteão, a legionella na chaminé do hospital, o Infarmed no Porto e a comemoração paga à Universidade de Aveiro para assinalar o 2.º aniversário do Governo. Como diria Assunção Cristas, "um Governo preocupado só com a sua imagem".
Depois de 2 - dois - 2 anos passados a ouvir a direita radical com o "encapotado aumento de impostos", que "a austeridade não acabou" e o "ataque à classe média.