"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Adiei sempre uma ida a Rock In Rio. Demasiado mainstream; “a melhor música de todas as estações”; “só grandes músicas”, e por aí. Não faz o meu estilo. Não foi por aí que eu andei. Acedi ontem pela primeira vez. Winehouse a razão da minha cedência.
Posso afirmar que já vi pior. Estou a lembrar-me de um Freddy Hubard no Seixal Jazz… Mas, uma coisa vos digo, do alto dos milhares de quilómetros de concertos que trago nos ouvidos, e outros tantos milhares como roadie em concertos e tournées; e ainda outros tantos como dj: génio em estado puro nunca tinha visto; ao vivo e para cem mil pessoas. Só fica escandalizado; só ficou desiludido, quem nunca esteve no backstage. E não me estou a referir à parte detrás dos palcos. Estou a falar do sítio onde os músicos se encontram e ensaiam; do sítio onde as músicas nascem em jam session pela noite e pela madrugada.
Guardem o bilhete. Um dia vão poder dizer: eu estive lá, e está aqui a prova!
Voltando ao princípio do escrito, e Amy à parte, esta incursão em terrenos das maiorias só veio confirmar a minha relutância em relação ao Rock In Rio. Há muito, mas mesmo muito tempo, que não via tanto betinho junto! (terão lido o Dicionário do Calão?); muito plástico e pouca uva.
E como os génios não andam aí pelas esquinas, uma coisa vos garanto: nem que Frank Zappa desça à terra; Rock In Rio: eu não vou!
Milhares de anos depois da expulsão por Deus, de Adão & Eva do Paraíso, foi Deus expulso do Paraíso pelos descendentes de Abel.
A remake, versão mesh-up, do Paraíso na Terra no Avante! e no Castendo.
E já que estamos numa de Paraíso, são tantos os "frutos do bem", que dava para escrever uma Bíblia.
Gosto particularmente deste apontamento sobre a Sibéria:
“(…) Cujas vastas extensões foram exploradas e literalmente transformadas graças ao trabalho heróico de milhares de trabalhadores, entre os quais numerosos voluntários”
Já agora, e se não for abusar da boa-fé; é que de há dois anos a esta parte a taxa de juro mais a maldita da Euribor não param de subir. A renda da casa já duplicou; o salário nem pouco mais ou menos… E como eu, há por aí “às mãos cheias”. Podíamos até fazer uma manif que envergonhava a última dos profs! Poderia Vossa Excelência dar uma palavrinha ao nosso Presidente do Conselho para que sejam encontradas “respostas selectivas para tentar ajudar os grupos mais desfavorecidos que têm dificuldade a ajustar-se à nova situação”? Agradecido.
Há vícios que nunca se perdem. Cavaco Silva Presidente ao nível de Cavaco Silva primeiro-ministro: calar o problema com o subsídio.
(Já tínhamos um ingenhêro; recuperámos agora um inconmista)
«O dr. Mário Soares é influenciado por aquilo que foi um dos maiores embustes lançados na sociedade portuguesa, ou seja, a ideia de que o relatório divulgado, na semana passada, era actual»
José Sócrates à saída do debate quinzenal no Parlamento.
Dando de barato que é verdade, que de 2004 para cá a realidade se alterou (para melhor) substancialmente; a haver uma vítima, e usando as palavras de Sócrates – de embuste – essa vitima é o próprio Sócrates.
Para o bem e para o mal, a ideia já passou para a opinião pública (a propósito: onde anda a famosa agência de comunicação do Governo?!). De tal forma que até nos candidatos à liderança do PSD se assistiu a uma inflexão do discurso, com o social a passar para o primeiro plano. Não adianta vir agora “fazer o pino e o flic-flac” que o “mal” já está feito.
Mas o problema de Sócrates – e também de Mário Soares – é que agora “o embuste” é vezes dois (x2). Longe de mim pensar não serem genuínas as preocupações de Mário Soares com a pobreza e as desigualdades sociais; mas há, nas palavras de Mário Soares, outra preocupação não menos preocupação e não menos genuína: “o PCP e o Bloco de Esquerda – e os seus líderes – continuarão a subir nas sondagens”. E esta, Sócrates não percebeu. Para a próxima Mário Soares que lhe faça “um desenho”.
Ao contrário de Louçã. E por falar em desenhos, e imaginando que José Sócrates visita aqui o estaminé: A Festa + Manuel Alegre + ex-PCP’s = eleições em 2009 / adeus maioria absoluta. Governar com quem?
(Imagem via Illustrated London News, 1 August 1908)
A obra-prima original dos irmãos Chapman (Jake & Dino), que caracterizaram 5.000 miniaturas de soldados Nazi que executam atrocidades, foi destruída pelas chamas que varreram um depósito da arte em 2004. Hoje Jake e Dinos Chapman revelaram uma nova versão baseada no mesmo conceito, intitulado F****** Hell. Esta nova versão F****** Hell é mesmo maior e mais chocante.
“Tens of thousands of the tiny plastic figures are depicted carrying out genocide and torture.”
“It is part of a new collection called 'If Hitler Had Been a Hippy How Happy Would We Be’, displayed at the White Cube Gallery in Hoxton, north London.”
Ouvi Manuel Alegre entrevistado por Mário Crespo, dizer que, mais ponto menos virgula, a Festa é um acontecimento virado para a juventude, com a participação de artistas actuais; nada daquelas coisas do passado.
Fui ver o programa. Rádio Macau & António Manuel Ribeiro (UHF). Podiam também ter convidado o António Variações. Ah… é verdade, esse já morreu! Os outros também. Só que ainda não deram por isso…
(Terrakota é aquela “mãozinha” Verde-Eufémia-antiglobalização-anarka-okupa-do-Bloco)
Portugal ao espelho. Uma parábola sobre Portugal, os portugueses e a classe política dirigente (negrito meu):
“Queixam-se, nomeadamente, de criarem expectativascom as consultas, pagando por cada uma delas um determinado montante, acabando por verificar que nada na vida pessoal mudou a não ser a diminuição das suas contas bancárias.”
“A frustração das expectativas, apesar de muito dinheiro envolvido, pode ser um dado demasiado subjectivo.”
Somos assim. Um povo de crédulos. Desde há muito governado por professores Bambo. Mas, malgré toutes les espectatives crées; e apesar de ficarmos constantemente mal na fotografia, já vamos aprendendo a gerir as frustrações. Valha-nos isso.
Que me desculpem estar a meter a foice nas searasalheias, mas, até estes me mandam trabalhar! E com um sorriso na cara… Só falta dizer que liberta! Arre que é demais!
Faz-me lembrar um fado manhoso, cujo intérprete não me vem à memória; grande sucesso nos anos 70:
Bishop Michael Nazir-Ali: Radical Islam is filling void left by collapse of Christianity in UK
«The decline of Christian values is destroying Britishness and has created a "moral vacuum" which radical Islam is filling, one of the Church of England's leading bishops has warned.
(…) the Church's influence began to wane during the 1960s, and quotes an academic who blames the loss of "faith and piety among women" for the steep decline in Christian worship.
He says Marxist students encouraged a "social and sexual revolution" to which liberal theologians and Church leaders "all but capitulated".
"It is this situation that has created the moral and spiritual vacuum in which we now find ourselves. While the Christian consensus was dissolved, nothing else, except perhaps endless self-indulgence, was put in its place."
"The consequences of the loss of this discourse are there for all to see: the destruction of the family because of the alleged parity of different forms of life together; the loss of a father figure, especially for boys, because the role of fathers is deemed otiose; the abuse of substances (including alcohol); the loss of respect for the human person leading to horrendous and mindless attacks on people."
The bishop added that Christian hospitality has been replaced by the "newfangled and insecurely founded" doctrine of multiculturalism, which has led to immigrants creating "segregated communities and parallel lives".
He said many values respected by society, such as the dignity of human life, equality and freedom, are based on Christian ones. But he warned that without their Christian backbone they cannot exist for ever, and that new belief systems may be based on different values.»
O que para mim é irritante nesta espécie de aviso às tropas é o que está por detrás do aviso. Olhem lá que as desigualdades sociais se estão a agravar; tomem lá atenção que a pobreza está a aumentar; corrijam urgentemente os azimutes; porque, “se o não fizerem, o PCP e o Bloco de Esquerda – e os seus líderes – continuarão a subir nas sondagens”.
Não deveria antes ser porque segundo a famosa Ética Republicana é imoral e reprovável? Ou, em última instância, porque é uma vergonha para um partido que se reclama do socialismo e da justiça social? Não. Porque assim perdemos a maioria absoluta, e quiçá as eleições! Neste ponto estamos conversados.
O que para mim é duplamente irritante, é andarmos há um ror de anos todos a falar do mesmo, e José Sócrates mais o amorfo PS a fazerem “orelhas de mercador”. Depois, como por artes mágicas, afinal não “há socialistas de plástico”; e, de Sócrateshimself a Mário Lino, passando por Pedro Silva Pereira todos estão genuinamente muito preocupados. Com a pobreza e as desigualdades sociais… ou com as eleições?
Temos assim o PS – até nisto! –, igual ao PSD, em que anda tudo “a brincar com a tropa” e é necessário vir um senador/ a chamar os maçaricos à razão…