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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Noite, Mafias e outras criminalidades (III)

por josé simões, em 31.08.07

 

Como já aqui havia oportunamente sido referido, a solução para a onda de criminalidade que assola a chamada diversão nocturna, com os casos mais ou menos graves que com inusitada regularidade vão fazendo as primeiras páginas dos jornais e as aberturas dos noticiários nas televisões; desde agressões de seguranças a confrontos entre gangs, passando, agora nesta última fase, pelo assassinato de proprietários de casas, não passava por colocar mais Polícia nas ruas – a ladainha preferida da Direita em tudo o que diga respeito ao crime e à violência –, uma vez que a Polícia já lá se encontra, à porta e no interior das próprias discotecas ou bares.
 
Ontem veio o presidente da Associação Sócio-Profissional da PSP, Paulo Rodrigues, dizer com o ar mais cândido do mundo que a associação por si presidida vai pedir à direcção nacional que investigue o eventual envolvimento de polícias neste esquema das seguranças; revelando que a ASPP “tem recebido informações, não só do Porto, mas de vários outros pontos do país, de que haverá vários polícias ligados à segurança privada” (ler mais aqui). Pois. Toda a gente sabia – proprietários, clientes, polícias que fazem as rondas e as patrulhas – excepto a ASPP, vá-se lá saber porquê…
 
Até já andava admirado por esta ladainha ainda não ter sido rezada!
 
As questões que gostava de ver respondidas da parte de Paulo Rodrigues e Ernesto Peixoto Rodrigues são:
. – Acaso os futuros candidatos a agentes da autoridade (PSP, GNR e PJ) não têm o conhecimento prévio das condições de trabalho, das regalias, e das remunerações que vão usufruir nas corporações?
. – Dando de barato que não têm esse conhecimento; é justificável que para tentar compor o salário se recorram a meios que roçam a ilegalidade e a criminalidade? E esta é uma pergunta válida para qualquer cidadão.
 
Aqui a questão passa a ser outra: a da ausência de valores. Entrar num campo onde o único valor que vale é o "vale tudo" - desde que renda euros. De preferência fáceis.

Orientais Barbudos Representando a Cruz do Império (*)

por josé simões, em 31.08.07

 

(*) Título da exposição
 
Exposição de arte com Virgem Maria de burqa está a causar forte polémica na Austrália.
 
«Um quadro onde Osama bin Laden está representado como se fosse Jesus Cristo e uma escultura em que a Virgem Maria aparece de burqa estão a causar grande contestação e uma acesa polémica na Austrália. (…). O primeiro-ministro australiano, John Howard, considerou, em declarações ao Daily Telegraph, que “ a escolha dos trabalhos é gratuitamente ofensiva para as crenças religiosas de muitos australianos”. (…).
“É realmente infeliz as pessoas tomarem liberdades com a fé cristã que não teriam com outras religiões”, disse Glynis Quinlan, porta-voz do Australian Christian Lobby.»
(Ler mais aqui)
 
Errado. É de uma enorme felicidade haver sociedades onde as crenças ou a fé, pessoal ou colectiva, são coisas completamente distintas do Estado. É o caso da Austrália. Não é o caso de, por exemplo, do Irão. Não era o caso da Turquia até ontem, onde a eleição do Presidente da República estava dependente do uso do véu islâmico por parte da sua esposa. Que diriam os críticos ocidentais à eleição de Abdullah Gul, se, por exemplo, a eleição de Cavaco Silva ou Nicolas Sarkozy estivesse dependente do uso de um colar com o crucifixo pelas suas esposas?
 
Post-Scriptum: para além do mais, o verdadeiro crente acredita no conceito e na palavra de Deus escrita nos Livros Sagrados, sejam eles a Tora, a Bíblia, ou o Alcorão; não acredita em imagens. Imagem é sinónimo de paganismo.

Auto Promoção

por josé simões, em 31.08.07

 

Mais uma Guerrilha Club sessions.

É hoje no ADN em Setúbal com Mister Simon & Eduardo Martins.

Partida à uma.

 

 

Ainda há quem aposte em distorcer e moldar a História (V)

por josé simões, em 31.08.07
“Esta guerra não é como as do passado. Quem quer que ocupe um território logo lhe impõe o seu próprio sistema social. Todos impõem o seu sistema até onde puderem ir os seus exércitos. Não pode ser de outra maneira.”
 
In: Conversas com Estaline de Milovan Djilas.
A propósito desta interpretação simplista da história por Correia da Fonseca, para consumo interno no Partido, e, perdoem-me a expressão, mas é mesmo disso que se trata – doutrinar as camadas da sociedade mais ignorantes dos factos e acontecimentos da nossa história recente – vou aqui recuperar alguns excertos de um trabalho de Tony Judt. Pela sua extensão será publicado em vários posts.
 
Tony Judt, britânico, formado em Cambridge e na École Normale Supérieure, professor de História em Cambridge, Oxford e na Universidade de Berkeley, leccionando actualmente na Universidade de Nova Iorque a cadeira de Estudos Europeus, colunista na New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic, entre outros, escreve na sua obra Pós-Guerra – História da Europa desde 1945, editada em Portugal pelas edições 70, a propósito da divisão da Alemanha em dois estados (quinto post):
 
“Deve se claro a partir deste relato que pouco se ganha em perguntar «quem começou a Guerra Fria?» Na medida em que o objecto das Guerra Fria era a Alemanha, o resultado final, um país divido, era provavelmente aquele que todos julgavam preferível a uma Alemanha unida contra eles. Ninguém planeara este resultado em Maio de 1945, mas poucos estariam profundamente descontentes com ele. Alguns políticos alemães, nomeadamente o próprio Konrad Adenauer, ficaram mesmo a dever a sua carreira à divisão do seu país: tivesse a Alemanha continuado com quatro zonas ou um país unificado e seria quase certo que um obscuro político local da Renânia católica, situada na longínqua fronteira ocidental a Alemanha, não conseguiria alcançar o topo.
Porém, dificilmente Adenauer poderia fazer seu o objectivo de uma Alemanha dividida, por muito que o acolhesse bem em privado. O seu principal opositor nos primeiros cinco anos da República Federal, o social-democrata Kurt Scumacher, era um protestante da Prússia Ocidental e um defensor incansável da unidade da Alemanha. Ao contrário de Adenauer, ele teria rapidamente aceite uma Alemanha neutral como preço a pagar por um Estado alemão unificado que era o que Estaline parecia estar a propor. Aliás, nessa altura, a posição de Scumacher era provavelmente a mais popular na Alemanha, razão por que Adenauer tinha que agir com cuidado e assegurar que a responsabilidade por uma Alemanha dividida recaía inteiramente sobre as forças ocupantes.
Em 1948, os Estados Unidos, tal como a Grã-Bretanha, não viam com maus olhos a emergência de uma Alemanha dividida e com uma influência americana dominante no maior segmento, o ocidental. Mas, embora tivesse havido alguns, como George Kennan, que anteciparam com perspicácia este resultado (já em 1945 chegara à conclusão de que os Estados Unidos da América «não podiam fazer outra coisa senão conduzir a sua parte da Alemanha (…) para um tipo de independência tão próspero, tão seguro, tão superior que o Leste não a pudesse ameaçar»), foram uma minoria. No decurso destes anos, os Americanos, tal como Estaline, andaram a improvisar. É por vezes sugerido que algumas decisões e declarações cruciais americanas, nomeadamente a doutrina Truman de Março de 1947, precipitaram o abandono de uma posição de compromisso por parte de Estaline, a favor da rigidez, e que, neste sentido, a responsabilidade pelas divisões europeias era imputável à insensibilidade de Washington ou, pior ainda, à sua calculada intransigência. Todavia, não foi isso que aconteceu.
É que a doutrina Truman, para tomar este exemplo, teve muito pouco impacto nas opções soviéticas. O anúncio de Truman ao Congresso, em 12 de Março de 1947, de que «deve ser política dos Estados Unidos apoiar os povos livres que resistem às tentativas de dominação de minorias armadas ou por pressões externas», era uma resposta directa à incapacidade de Londres continuar a ajudar a Grécia e a Turquia, depois da crise económica britânica de Fevereiro de 1947. A América tinha de assumir o papel da Grã-Bretanha. Truman procurou por isso que o Congresso aprovasse um aumento de 400 milhões de dólares do seu orçamento de ajuda ao exterior. Para assegurar o financiamento, apresentou o pedido no contexto de uma crise de revolta comunista.
O Congresso acreditou nele, mas Moscovo não. Estaline não estava grandemente interessado na Grécia ou na Turquia, os principais beneficiários do pacote de ajuda, e compreendeu perfeitamente que a sua própria esfera de interesses provavelmente não seria afectada pela exibição de Truman para a plateia. Pelo contrário, continuou a pensar que havia muito boas perspectivas de uma divisão no campo ocidental, de que a assunção das antigas responsabilidades britânicas no Mediterrâneo Oriental pelos Americanos era o sinal e percursor. Independentemente do que levou Estaline a ajustar os seus cálculos na Europa de Leste, não foi seguramente a retórica da política interna americana. (Em Setembro de 1947, Andrej Zdanov, falando como sempre pelo seu senhor, informaria os delegados do congresso fundador do Comimform que a doutrina Truman se dirigia pelo menos tanto contra a Grã-Bretanha como contra a URSS, «porque significa a expulsão da Grã-Bretanha da sua esfera no Mediterrâneo e no Próximo Oriente»).” (Continua).

Carrinho das Compras

por josé simões, em 31.08.07

LIVROS

 

 

Contos de Saki

Saki

Relógio D'Água

 

 

O Rei dos Judeus

Nick Tosches

Estampa

 

 

O Livro do Deslumbramento

Lord Dunsany

Saída de Emergêngia

 

 

DISCOS

 

 

Strars of the Lid and Their Refinement of the Decline

Stars of the Lid

Kranky / Sabotage

 

 

Fantastic Playground

New Young Pony Club

Modular / Universal

 

 

É Dreda Ser Angolano

Vários

Rádio Fazuma / Compact

 

 

In San Francisco

Cannonball Adderley Quintet

Riverside / Universal

 

Para lá da Grande Muralha da China

por josé simões, em 30.08.07
Hoje, via Maria Elisa do blogue Página dos Concursos, descobri uma ferramenta na net deveras interessante. Também descobri que aqui o Der Terrorist é proibido na China, o que, dadas as circunstâncias, deve ser encarado como motivo de orgulho.
 
Pela segunda vez aqui no blogue (e nunca é demais relembrá-lo!):
Saiba mais aqui, e aqui.

Noite, Mafias e outra criminalidade (II)

por josé simões, em 30.08.07

Pegando ainda no tema da insegurança na noite portuense no particular, mas projectando-o para a generalidade da noite nas grandes urbes em Portugal.
 
Hoje, e segundo o Público «Um elemento próximo da família da Aurélio Palha (…) explicou que a família deseja resguardar-se ao máximo – inclusive de declarações aos órgãos de comunicação social – porque eles próprios também não percebem o que é que levou à morte de Aurélio Palha, nem com quê ou com quem estão a lidar.»
 
A ver se percebo o que a família do “malogrado” (como se usa na imprensa regional) Aurélio Palha não percebe: Em meia-dúzia de anos, de segurança a dono de um império que inclui uma rádio, «deixando em herança um património avultado e alguns carros de topo de gama, como um Ferrari e um Porsche Cayenne.» (Público). Qual é a parte que a família não percebe?
 
«Este interlocutor criticou ainda as leis portuguesas por, na sua opinião, serem favoráveis aos criminosos.» (também no Público). Tem toda a razão o “elemento próximo da família da Aurélio Palha”, como anteriormente aqui havia sido escrito, isto não é um caso de Polícia, é um caso de Finanças, vulgo Fisco.
 
Identifique-se e seja (m) levado (s) a julgamento o (s) responsável / responsáveis pelo assassinato de Aurélio Palha, é o mínimo que se exige; é o caso de Polícia. Investiguem-se todos os Aurélios Palha deste país, e as suas ascensões meteóricas. E, mais importante, sejam criados mecanismos de controlo e prevenção a futuros candidatos a “empresários” da noite; é a parte que cabe ao Fisco.
 
Adenda: Ainda sou do tempo – como no spot publicitário – em que ser “empresário” era sinónimo de criador de emprego e bem-estar para uma comunidade.

Revolução de Outubro e Democracia

por josé simões, em 30.08.07

 

A Festa do Avante! comemora este ano os 90 Anos da Revolução de Outubro.
 
A Festa do Avante! vai debater as ameaças à Democracia.
 
Qual foi a parte que eu não percebi?!

Ainda há quem aposte em distorcer e moldar a História (IV)

por josé simões, em 30.08.07
“Esta guerra não é como as do passado. Quem quer que ocupe um território logo lhe impõe o seu próprio sistema social. Todos impõem o seu sistema até onde puderem ir os seus exércitos. Não pode ser de outra maneira.”
 
In: Conversas com Estaline de Milovan Djilas.
A propósito desta interpretação simplista da história por Correia da Fonseca, para consumo interno no Partido, e, perdoem-me a expressão, mas é mesmo disso que se trata – doutrinar as camadas da sociedade mais ignorantes dos factos e acontecimentos da nossa história recente – vou aqui recuperar alguns excertos de um trabalho de Tony Judt, que pela sua extensão será publicado em vários posts.
 
Tony Judt, britânico, formado em Cambridge e na École Normale Supérieure, professor de História em Cambridge, Oxford e na Universidade de Berkeley, leccionando actualmente na Universidade de Nova Iorque a cadeira de Estudos Europeus, colunista na New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic, entre outros, escreve na sua obra Pós-Guerra – História da Europa desde 1945, editada em Portugal pelas edições 70 a propósito da divisão da Alemanha em dois estados (quarto post):
 
"A partir deste momento, as coisas avançaram rapidamente. Nenhum dos lados fez ou procurou mais concessões: os Americanos e os Britânicos, que recearam durante muito tempo uma paz russo-germânica em separado e deram o seu acordo a adiamentos e compromissos para a evitar, deixaram de tomar em consideração uma eventualidade que agora podiam descartar. Em Agosto, aumentaram unilateralmente a produção da zona dupla (contra o coro de críticas de Soviéticos e Franceses). A directiva JCS 1067 da Junta de Chefes do Estado-Maior (o «plano Morgenthau») foi substituída pela directiva JCS 1779, que aceitava formalmente as novas metas americanas: a unificação económica da zona ocidental da Alemanha e o encorajamento do seu autogoverno. Sobretudo para os Americanos, os Alemães estavam rapidamente a deixar de ser o inimigo.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros Molotov, Bevin, Marshall e Bidault encontraram-se pela última vez em Londres, de 25 de Novembro a 16 de Dezembro de 1947. Foi uma reunião curiosa, uma vez que as suas relações já se tinham praticamente rompido. S Aliados avançavam com planos independentes para a recuperação da Europa Ocidental, ao passo que Estaline, dois meses antes, criara o Comimform, ordenara aos partidos comunistas da França e da Itália que adoptasse uma linha de intransigência nos assuntos internos dos seus respectivos países e incrementara fortemente a pressão sobre os países que estavam sob o controlo comunista, no que constituía agora o bloco soviético. Tal como no passado, os ministros analisaram as perspectivas de um governo alemão unificado sob controlo aliado e outras condições para um eventual tratado de paz. Mas já não houve acordo sobre a administração comum da Alemanha nem sobre os planos respeitantes ao seu futuro, pelo que o encontro foi interrompido sem que se agendasse qualquer outro.
Em vez disso, a Grã-Bretanha, a França e os Estados Unidos iniciaram discussões tripartidas sobre o futuro da Alemanha numa cimeira alargada que teve novamente lugar em Londres, com início em 23 de Fevereiro de 1948. Nessa mesma semana, o Partido Comunista da Checoslováquia levou a cabo, com êxito, um golpe no país, que era sinal de que Estaline abandonara definitivamente a sua estratégia anterior e aceitara a inevitabilidade de uma confrontação, e não de um acordo, com o Ocidente. Ainda sob o efeito do golpe de Praga, a França e a Grã-Bretanha transformaram, em 17 de Março, o seu tratado de Dunquerque num pacto de Bruxelas que reunia, numa aliança defensiva mútua, a Grã-Bretanha, a França e os países do Benelux.
 
Nada impedia agora os líderes ocidentais e a conferência de Londres de concordarem rapidamente em estender o plano Marshall à Alemanha Ocidental e esboçarem um eventual governo para o Estado (um acordo aprovado pela delegação francesa em roca da separação temporária do Sarre em relação à Alemanha e a proposta de uma autoridade independente para fiscalizar a indústria do Rhur). Estes planos constituíram um abandono explícito do espírito dos acordos de Postdam e o general Vassily Sokolovsky, o representante soviético no Conselho de Controlo Aliado (CCA) em Berlim, protestou veementemente (esquecendo-se de reconhecer os frequentes incumprimentos desses mesmos acordos por parte da União Soviética.
Em 10 de Março, Sokolovsky condenou os planos para a Alemanha Ocidental por serem a imposição forçada dos interesses capitalistas a uma população alemã a quem era negada a oportunidade de demonstrar o seu desejo de abraçar o socialismo e repetiu as alegações soviéticas de que as potências ocidentais estavam a abusar da sua presença em Berlim – que afirmava pertencer à zona soviética – para interferirem nos assuntos da Alemanha de Leste. Dez dias depois, num encontro do CCA, em Berlim, a 20 de Março, Sokolovsky denunciou as «acções unilaterais» dos Aliados ocidentais, «enganando a Alemanha Ocidental, e que vão contra os interesses dos países pacíficos e dos Alemães amantes da paz que procuram uma unidade e uma democratização pacíficas do seu país». Abandonou em seguida a sala, seguido da restante delegação soviética. Não foi fixada qualquer data para um encontro posterior. Acabara a ocupação conjunta da Alemanha pelos Aliados: menos de duas semanas depois, no dia 1 de Abril, as autoridades militares soviéticas em Berlim começaram a interferir com a circulação de superfície entre a Alemanha Ocidental e as zonas de Berlim ocupadas pelos Aliados ocidentais. Assim começava efectivamente a Guerra Fria na Europa."

Noite, Mafias e outra criminalidade

por josé simões, em 29.08.07

 

E de repente, como que por artes mágicas, todos os partidos do leque parlamentar descobriram a criminalidade associada à noite, e, da esquerda à direita, de um extremo ao outro das bancadas em S. Bento, vêm todos ao terreiro exigir medidas para pôr cobro à situação.
 
Não estranho que à direita, pelas vozes de Agostinho Branquinho (Distrital do PSD/ Porto), Nuno Magalhães (CDS/ PP) ou Luís Filipe Menezes, se venha pedir o reforço das medidas de segurança que passa inevitavelmente por mais polícias na rua – de preferência um polícia para cada perigoso noctívago. É a receita habitual da direita: polícia, muita polícia, quanto mais polícia melhor. Estranho é que a esquerda, habitualmente mais desconfiada nestas coisas de polícias, alinhe pelo mesmo diapasão e, faça suas, as mesmas exigências e reivindicações que a direita-policial (vejam-se as declarações do presidente socialista da Câmara de Matosinhos, do vereador comunista na autarquia do Porto, Rui Sá, e até um “insuspeito” bloquista: Teixeira Lopes).
 
Estou frontalmente contra estas exigências. Repugna-me a ideia de um Estado policial. Não quero viver num País com um polícia em cada esquina como na Roménia de Ceucesco.
 
A solução para este tipo de problemas que começaram a ter mais visibilidade com o caso Mea Culpa em Amarante, não passa por colocar mais polícia na rua; os polícias já lá estão, à porta das discotecas e bares, no interior dos estabelecimentos, onde eles próprios exercem as funções de seguranças, em part-time e horários pós-laborais.
 
A solução para este tipo de problemas – falo com a autoridade adquirida em mais de 20 anos de actividade ligada à noite (dj) –, sejam eles no Porto, Setúbal, Lisboa, ou outra qualquer localidade de Portugal, chama-se Finanças, vulgo Fisco. Investigar como se fazem e desfazem sociedades e fortunas ligadas ao negócio da noite, cujo caso do recém assassinado proprietário da discoteca Chic é exemplar: Em meia-dúzia de anos – literalmente – de segurança a dono de um império que inclui até uma rádio! Depois os seguranças mais os tráficos de drogas vêm por acréscimo; são os chamados fait-divers, apesar de estarem intimamente ligados ao chamado “negócio da noite” e funcionarem em círculo fechado – um leva ao outro, e assim sucessivamente. Da mesma forma que não se começa a construir uma casa pelo telhado, que é parte integrante da casa; não se começa a investigar o negócio da noite pelos seguranças e pelos dillers, malgrado alguns terem sido o embrião dos outros.
 
Pelos vistos o “ÍdoloPaulo Macedo tem “pés-de-barro” e andou a dormir na forma e no conteúdo nalgumas áreas que eram sua responsabilidade.
 
Ao PSD fica-lhe mal, muito mal, vir assacar culpas ao actual executivo pelo clima de insegurança que se vive na noite – e neste particular do Porto –, quando já teve várias oportunidades de pôr ordem na coisa e nunca o fez nos sucessivos governos em que participou, quer sozinho, quer em coligação; uma delas de ouro, por via de um ex-líder e ex-primeiro-Ministro habituée nestas lides e que tinha / tem necessariamente o conhecimento de como as coisas se processam.
 
Mas os bares e as discos das elites são muito mais higiénicas e exclusivas, blindadas ao exterior. E enquanto o azar não bater à porta de um qualquer novo Stones, Bananas ou outro K qualquer, vai tudo ficar na “paz dos deuses”, até que noutra qualquer cidade portuguesa, outro Aurélio Palha por via da sua morte, fornecer mais “palha” para alimentar aos media e a indignação da classe política.

Ainda há quem aposte em distorcer e moldar a História (III)

por josé simões, em 29.08.07
“Esta guerra não é como as do passado. Quem quer que ocupe um território logo lhe impõe o seu próprio sistema social. Todos impõem o seu sistema até onde puderem ir os seus exércitos. Não pode ser de outra maneira.”
 
In: Conversas com Estaline de Milovan Djilas.
A propósito desta interpretação simplista da história por Correia da Fonseca, para consumo interno no Partido, e, perdoem-me a expressão, mas é mesmo disso que se trata – doutrinar as camadas da sociedade mais ignorantes dos factos e acontecimentos da nossa história recente – vou aqui recuperar alguns excertos de um trabalho de Tony Judt, que pela sua extensão será publicado em vários posts.
 
Tony Judt, britânico, formado em Cambridge e na École Normale Supérieure, professor de História em Cambridge, Oxford e na Universidade de Berkeley, leccionando actualmente na Universidade de Nova Iorque a cadeira de Estudos Europeus, colunista na New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic, entre outros, escreve na sua obra Pós-Guerra – História da Europa desde 1945, editada em Portugal pelas edições 70 a propósito da divisão da Alemanha em dois estados (terceiro post):
 
"No entanto, estava a tornar-se evidente que as quatro potências ocupantes não se aproximavam de um acordo. Uma vez terminado o principal julgamento de Nuremberga, em Outubro de 1946, e finalizados os termos dos tratados de paz de Paris no mês seguinte, os aliados de guerra estavam unidos por pouco mais do que a sua co-responsabilidade pela Alemanha, cujas contradições passaram cada vez mais para o primeiro plano. No fim de 1946, os Americanos e os Britânicos concordaram em reunir as economias das suas zonas de ocupação numa chamada «zona dupla, mas mesmo isto não significava ainda uma divisão assente da Alemanha e muito menos um compromisso com a integração da zona dupla no Ocidente. Pelo contrário, três meses depois, em Fevereiro de 1947, os Franceses e os Britânicos assinaram ostensivamente o tratado de Dunquerque em que se comprometiam a uma ajuda mútua em caso de qualquer agressão alemã no futuro. Por outro lado, no início de 1947, o secretário de Estado americano Marshall estava ainda optimista quanto a não ser necessário dividir a Alemanha, independentemente dos acordos que fossem feitos para resolver a difícil questão da economia alemã. Sobre isto, pelo menos, o Leste e o Ocidente estavam ainda formalmente de acordo.
A ruptura efectiva aconteceu na primavera de 1947, no encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos estados Unidos, da Grã-Bretanha, da França e da União Soviética, realizado em Moscovo, entre 10 de Março e 24 de Abril, e convocado uma vez mais para tentar um acordo sobre o tratado de paz com a Alemanha e a Áustria. Nesta altura as linhas de fractura eram nítidas. Os Britânicos e os Americanos estavam determinados a erguer a economia da Alemanha Ocidental para que os Alemães pudessem sustentar-se a si mesmos, mas também para contribuir para o restabelecimento da economia europeia em geral. Os representantes soviéticos pretendiam o restabelecimento das indemnizações a pagar pelas zonas da Alemanha sob controlo ocidental e com essa finalidade foi encarada a hipótese de uma administração e de uma economia alemãs unificadas tal como eram as perspectivas de início (se bem que de forma vaga) em Postdam. Porém, agora os Aliados ocidentais já não queriam estabelecer uma administração alemã unificada, porque ela implicaria não só o abandono da população das zonas ocidentais da Alemanha – o que era neste momento uma consideração política válida em si mesma –, mas, de facto, a entrega do país à esfera de controlo soviética, da a assimetria militar existente.
Como reconheceu Robert. K. Murphy, conselheiro político do governo militar dos Estados Unidos na Alemanha, «foi a conferência de Moscovo, em 1947 (…) que realmente fez descer a cortina de ferro». Ernest Bevin abandonara qualquer esperança séria de acordo sobre a Alemanha antes mesmo de chegar a Moscovo, mas para Marshall (e Bidault) este foi o momento da definição. Sem dúvida, foi-o também para Estaline e Molotov. Quando os quatro ministros dos Negócios Estrangeiros se voltaram a encontrara, em Paris, entre 27 de Junho e 2 de Julho, para discutir o radicalmente novo plano de Marshall, os Americanos e os Britânicos haviam já concordado, em 23 de Maio, em permitir que a Alemanha estivesse representada no recém-criado «Conselho Económico» para a Zona Dupla, o prelúdio embrionário de um governo alemão ocidental." (Continua).

Outros blogues

por josé simões, em 28.08.07

A liberdade não é uma concessão do príncipe ou da revolução, é uma conquista do homem revoltado contra a servidão voluntária.

José Adelino Maltez no Sobre O Tempo Que Passa.

Anos 60

por josé simões, em 28.08.07

Um dos meus autores preferidos dos anos 60 (o que quer que isso signifique).

 

Song To The Siren - Tim Buckley

Ainda há quem aposte em distorcer e moldar a História (II)

por josé simões, em 28.08.07
“Esta guerra não é como as do passado. Quem quer que ocupe um território logo lhe impõe o seu próprio sistema social. Todos impõem o seu sistema até onde puderem ir os seus exércitos. Não pode ser de outra maneira.”
 

In: Conversas com Estaline de Milovan Djilas

A propósito desta interpretação simplista da história por Correia da Fonseca, para consumo interno no Partido, e, perdoem-me a expressão, mas é mesmo disso que se trata – doutrinar as camadas da sociedade mais ignorantes dos factos e acontecimentos da nossa história recente – vou aqui recuperar alguns excertos de um trabalho de Tony Judt que pela sua extensão será publicado em vários posts.
 
Tony Judt, britânico, formado em Cambridge e na École Normale Supérieure, professor de História em Cambridge, Oxford e na Universidade de Berkeley, leccionando actualmente na Universidade de Nova Iorque a cadeira de Estudos Europeus, colunista na New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic, entre outros, escreve na sua obra Pós-Guerra – História da Europa desde 1945, editada em Portugal pelas edições 70 a propósito da divisão da Alemanha em dois estados (segundo post):
 
"A estratégia anglo-americana era ditada por considerações de prudência política. Se os Alemães da zona ocidental de ocupação permanecessem dominados e empobrecidos e se não lhes fosse oferecida uma oportunidade de melhorar, nesse caso voltar-se-iam mais cedo ou mais tarde para o nazismo ou então para o comunismo. Portanto, nas zonas da Alemanha que estavam ocupadas pelos governos militares americano e britânico, a ênfase mudou logo nos primeiros tempos para a reconstrução das instituições cívicas e políticas e para a atribuição aos alemães de algumas responsabilidades nos seus assuntos internos. Isto deu aos políticos alemães em emergência uma influência muito maior do que aquela que podiam ter esperado quando a guerra terminou, e não hesitaram em explorá-la, dando a entender que a menos que os ocupantes seguissem os seus conselhos, não poderiam responder pelo alinhamento futuro da nação alemã.
Felizmente para os Aliados ocidentais, as políticas de ocupação comunistas em Berlim e nos territórios do Leste da Alemanha ocupados pelos Soviéticos não eram de molde a atrair os sentimentos nem os votos alemães. Por muito impopulares que os Americanos, os Ingleses ou os franceses fossem aos olhos dos ressentidos Alemães, a alternativa era bem pior: se Estaline pretendia genuinamente que a Alemanha permanecesse unida, tal como ordenara aos comunistas alemães que o exigissem nos anos iniciais do pós-guerra, então a táctica soviética era muitíssimo mal escolhida. Desde o início, os Soviéticos estabeleceram de facto na sua zona de ocupação um governo de liderança comunista sem o consentimento aliado e começaram a tornar supérfluos os acordos de Postdam, retirando e desmantelando implacavelmente tudo o que caiu nas suas mãos.
Não é que Estaline tivesse muitas alternativas. Nunca houve qualquer perspectiva de os comunistas controlarem o país ou mesmo a zona soviética, a não ser pela força. Nas eleições para a cidade de Berlim, em 20 de Outubro de 1946, os candidatos comunistas ficaram muito atrás tanto dos social-democratas como dos democratas-cristãos. Em resultado, a política soviética endureceu de forma perceptível. No entanto, nessa altura os ocupantes ocidentais enfrentavam as suas próprias dificuldades. Em Julho de 1946, a Grã-Bretanha vira-se forçada a importar 112 000 toneladas de trigo e 50 000 toneladas de batatas para alimentar a população da sua zona (o Noroeste urbano e industrial da Alemanha), pagas com um empréstimo americano.
O Britânicos estavam a receber no máximo 29 milhões de dólares de indemnizações da Alemanha, mas a ocupação custava a Londres 80 milhões de dólares por ano, deixando ao contribuinte britânico o pagamento das despesas correspondentes à diferença, a mesmo tempo que o respectivo governo se via forçado a impor racionamento do pão no seu próprio país (um expediente que fora evitado durante a guerra). Na opinião do chanceler britânico do Tesouro, Hugh Dalton, os Britânicos estavam «a pagar indemnizações aos Alemães». Os americanos não estavam sujeitos às mesmas restrições económicas e a sua zona não tinha sofrido tantos estragos de guerra, mas a situação não lhes parecia menos absurda. O exército americano, em particular, não estava nada satisfeito, pois o custo de alimentar milhões de Alemães esfomeados recaía sobre o seu próprio orçamento. Como disse George Kennan: «a rendição incondicional a Alemanha (…) deixou-nos toda a responsabilidade por uma parte a Alemanha que nunca foi auto-suficiente do ponto de vista económico nos tempos modernos e cuja capacidade de se sustentar foi catastroficamente reduzida pelas circunstâncias da guerra e pela derrota alemã. (…)».
Confrontados com este problema e com o crescente ressentimento alemão devido ao desmantelamento de fábricas e instalações para serem enviadas para leste, o governador militar dos Estados Unidos, o general Clay, suspendeu unilateralmente as entregas de indemnizações da zona americana à União Soviética (ou a quem quer que fosse) em Maio de 1946, dizendo que as autoridades soviéticas não cumpriram a sua parte dos acordos de Postdam. Os Britânicos fizeram o mesmo dois meses mais tarde. Estes factos assinalaram o primeiro afastamento, mas não mais do que isso. Os Franceses, tal como a URSS, ainda queriam indemnizações e os quatro aliados estavam ainda formalmente obrigados a cumprir o acordo sobre «níveis de indústria», de 1946, segundo o qual a Alemanha deveria manter um nível de vida que não fosse superior à média europeia (excluindo a Grã-Bretanha e a União Soviética). Para além disso, o governo britânico, num conselho de ministros de Maio de 1946, ainda tinha relutância em aceitar uma divisão formal da Alemanha ocupada em duas metades, a oriental e a ocidental, com todas as implicações que isso teria para a segurança europeia. (Continua).

O verdadeiro artista (XIV)

por josé simões, em 27.08.07

 

"Por motivos estéticos"

Resposta de Gualter Batista a Mário Crespo no telejornal das 21 horas na SIC Notícias, quando este lhe perguntou qual a razão para os militantes do Verde Eufémia terem actuado de cara tapada.

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