"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A entrevista de Luís Filipe Menezes ao “Diário de Noticias” na passada segunda-feira é um flagrante exemplo de como a mecânica partidária funciona; dos subtis jogos de interesse nos bastidores, de como jogar com as palavras ou com a ausência delas com o fim ultimo da promoção pessoal e do poder pelo poder.
Antes da entrevista propriamente dita, sublinhe-se a atracção existente no PSD para a adjectivação das pessoas (Menezes incluído). Ele é o engenheiro por isto, o doutor por aquilo. Nunca o senhor tal ou o ministro tal. Convém manter as distâncias e marcar a posição em relação à plebe.
A este propósito realce-se a medida de abolição no tratamento por graus, tomada por António Pires de Lima (por sinal do CDS/ PP) na empresa que gere, a Unicer.
Menezes veste a pele de “enfant-terrible”, e diz o que já há muito se suspeitava:
“Há muita gente no partido que diz à boca pequena que o eng. Sócrates está a fazer a politica do PSD, portanto deixemo-lo lá estar. Deixemo-lo chamuscar-se com isso, não façamos nada, para depois tomarmos o seu lugar. (…)”.
E nas entrelinhas ficámos todos a saber que no PSD e na óptica do partido há quem pense que José Sócrates até está a governar bem. José Sócrates está a tomar as medidas necessárias, que por motivos que vão desde os eleitorais às clientelas politicas nós nunca tivemos coragem de tomar.
Tudo o que o Governo PS fizer, toda a contestação e desgaste que “apanhar” é bom para nós; na próxima oportunidade cai-nos o poder nas mãos com o trabalho “sujo” já efectuado.
A outra face da moeda dum partido que elegeu um candidato a Presidente com a secreta esperança de ser ele, a assumir a oposição que se demitiram ou não sabem fazer; esquecendo-se que o candidato deixa de o ser, a partir do primeiro segundo em que foi eleito, para passar a ser o Presidente de todos, inclusive daqueles que nele não votaram.
Trocando por miúdos, Cavaco Silva por ser do, e uma referencia PSD, devia sobrepor, mesmo que fosse contra a sua consciência, o interesse do partido que o elegeu ao interesse nacional.
Mais à frente na entrevista:
“Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro, foi presidente da Câmara de Lisboa, tem todo o direito e o dever de ter opiniões”.
Neste ponto convém fazer um “rewind” e tomar em linha de conta as declarações de Rui Gomes da Silva no badalado almoço de Vila Nova de Gaia.
Conhecido como o braço direito de Santana Lopes, disse com todas as letras que apoiava Menezes para a liderança do partido.
Ora se a matemática não me falha, e dois mais dois continuarem a ser quatro, quer isto dizer que Santana descartou (por ora) a hipótese de liderar o partido e talvez esteja a sonhar mais alto (a presidência da republica). Começa assim a delinear-se a estratégia para 2008. Menezes no PSD com o apoio de Santana.
A parte cínica da entrevista estava guardada para o fim.
Inquirido sobre a sua posição no referendo à Interrupção Voluntária da Gravidez, “Pode votar sim?”, resposta de Menezes, “Quero ver primeiro todas as variáveis em cima da mesa”.
Luís Filipe Menezes, médico pediatra, licenciado pela Faculdade de Medicina do Porto, quer ver todas as variáveis? Quais são as variáveis que um médico necessite de ver para ter uma opinião formada? Estamos a falar de futebol?
Não. Continuamos na mesma quadratura do circ(o)ulo politico; não tomar posição. Esperar e ver para que lado pende a balança. A tal falta de coragem em assumir uma posição, a que Menezes aponta o dedo dentro do partido no início da entrevista.
E é este um homem que ambiciona ser primeiro-ministro de um Governo em Portugal.”A Oeste nada de novo…”
Comemora-se no próximo dia 9 de Dezembro o 398º aniversário do nascimento de John Milton (1608), um dos nomes maiores da literatura mundial.
A sua obra maior, “Paraíso Perdido”, situa-se entre as mais extraordinárias produções literárias da história da humanidade, comparável as obras de Homero (Ilíada e Odisseia), Virgílio (Eneida) ou o nosso Camões (Lusíadas).
Recentemente reeditada entre nós pelos “Livros Cotovia” – da qual se reproduz a capa no blog – com tradução de Daniel Jonas, uma boa opção de prenda neste Natal.
Para mais detalhes e informações sobre o autor e a sua obra, aconselho o livro de Jacques Barzun “Da Alvorada à Decadência – 500 Anos de Vida Cultural do Ocidente”, edição da Grádiva , 847 páginas.
O “Busto da Medusa”, do escultor italiano Gian Lorenzo Bernini, realizado entre os anos de 1644 e 1648, pode ser agora visto nos Musei Capitolini de Roma, após longo trabalho de restauração.
Privilegiou-se o jogo de luzes e sombras existente na escultura.
Inspirada na figura da mitologia grega Medusa, é considerada uma das mais originais interpretações do mito.
O PSD acusou na passada semana o Governo de não conviver bem com o combate a corrupção. O Governo e o PS não responderam…
Entretanto em Lisboa a Câmara PSD aprova um loteamento que nunca o irá ser, e que além disso e por mais isso, implica que alguém venha a receber um Jackpot do erário público. Estamos a falar do mesmo?
José Sócrates acusa o PC de falta de democracia interna a propósito do caso das substituições dos deputados; entretanto em Lisboa o PS tenta substituir o vereador municipal Gaioso Ribeiro, por se ter insurgido contra as baldas de Carrilho. Estamos a fala do mesmo?
O PC argumenta que um dos motivos para a substituição dos deputados, prende-se com o rejuvenescimento da bancada parlamentar. Tão jovem que um deputado (Bernardino Soares), afirmou que a Coreia do Norte era uma Democracia. Ignorância, num partido histórico da resistência, de quem nunca viveu em ditadura?
Será ilusão minha, ou o mais velho da bancada nunca será substituído?
O Expresso continua a martelar na campanha para a salvação da “Festa da Musica”, ignorando deliberadamente que o modelo original francês era pago por mecenas privados. Continuamos à espera que o dr. Balsemão dê o primeiro exemplo que possa contribuir por arrastamento a outros; disponibilize uns euritos para a festa…
Esta semana cabe a vez a Sérgio Godinho opinar. Não se comprometeu demasiadamente. Indagado sobre o fim da Festa, foi um “nim” a resposta. Aceita-se, de quem nunca recebeu subsídios ao longo da vida para chegar onde chegou.
Um segurança pessoal de Cavaco Silva foi apanhado no Jumbo de Almada a trocar o preço da comida para gatos. Feita a participação à direcção da PSP, foi suspenso por 90 dias. A medida disciplinar revoltou os colegas, alegando que o sujeito em questão, está há mais de 20 anos na polícia e nunca tivera nenhuma participação. Tem gatos há pouco tempo, ou em 20 anos tantas vezes foi o cântaro à fonte…
Pinochet está a “bater a bota”. Em carta lida pela sua mulher aos seus apoiantes, diz: “Não guardo rancor a ninguém”.
Entre (calcula-se) 2 500 a 3 mil mortos e desaparecidos durante a sua ditadura, sem contar com os torturados, seviciados e violentados, haverão alguns rancores guardados, ou o “mítico” desempenho económico do país durante a ditadura serve de medida compensatória?
Seria interessante ouvir o que tinha Milton Friedman a dizer sobre isto, mas esse também já cá não está…
A comissão do Parlamento Europeu que investiga os voos secretos da CIA, em documento publicado pelo “Publico”, mostra-se preocupada com as 91 escalas efectuadas por aviões ao serviço da Agência em território nacional, e decepcionada por o titular do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, ter ignorado o convite da comissão para prestar esclarecimentos em Bruxelas.
Fez bem Luís Amado em não se deslocar a Bruxelas.
Por que cargas de água um ministro de um Governo eleito democraticamente, de um Estado de Direito se deve deslocar a Bruxelas para responder perante uma comissão?
Acaso o termo soberania nacional existe no vocabulário Eurocrata?
A haver lugar a esclarecimentos, a dita comissão que se desloque ao País em questão e peça para ser recebida; o que pelos vistos irá acontecer no próximo dia 6.
Levou a comissão, o seu tempo a perceber… Mas mais vale tarde do que nunca.
Na minha perspectiva, a questão das alegadas escalas de voos da CIA em território nacional, apesar de importante é uma questão menor.
Portugal, no quadro das suas alianças político-militares e como país membro / fundador da NATO, tem uma relação privilegiada com os Estados Unidos; e é a partir desta base de raciocínio que poderemos interrogar-nos qual a argumentação a usar pelo SIS ou pelo SEF que justificasse a fiscalização de “aviões amigos”. Obviamente que as sinergias estavam viradas para outros potenciais suspeitos.
Preocupava-me sim, se houvessem em território nacional as chamadas prisões clandestinas, como se supõe existirem em Itália, na Polónia e na Roménia; porque assim estaríamos em face de uma flagrante ilegalidade, de um claro indício de ingerência e ultraje à soberania nacional e de subserviência do Governo a uma potência estrangeira.
Para todos os efeitos convém não esquecer que estamos em guerra.
Goste-se ou não do homem, G. W. Bush tem razão neste ponto.
A luta contra o terrorismo é uma guerra. E é uma realidade nova para a qual não estávamos preparados. Não é uma guerra no sentido convencional do termo porque não se sabe quem é, nem onde está o inimigo. Pode ser qualquer um dos mais pacatos cidadãos, como os atentados de Londres o demonstraram.
A questão que aqui se coloca é saber até que ponto, numa luta que se trava contra um inimigo invisível que ignora regras e Convenções de Genebra, devemos nós orgulhosos cidadãos ocidentais, herdeiros do “Liberdade, Fraternidade e Igualdade” usar os mesmos argumentos usados por aqueles cujo objectivo único, é a destruição do nosso “way of life”; descermos ao mesmo nível de actuação.
Sem entrarmos numa paranóia colectiva, o modus operandi tem de se situar entre o usar meios legais que não colidam com os nossos princípios (de) direitos, liberdades e garantias, e Guantanamo.
No seguimento dos tópicos atrás desenvolvidos, convém atender às declarações do braço da Al-Qaeda no Iraque, através da Internet; comentando a visita de Bento XVI à Turquia como mais uma acção “da campanha dos cruzados contra o Islão”, e adiantando, “depois da falência de Bush, Blair e Berlusconi” para manter “os irmãos muçulmanos no Estado laico fundado pelo judeu Ataturk” e assim empurrá-los para a União Europeia.
Um ponto que tanto vale para os defensores da entrada da Turquia na União, por assim supostamente se colocar um travão ao fundamentalismo islâmico; como vale para os que defendem a não entrada, por a Turquia poder vir a ser um Cavalo de Tróia desse mesmo fundamentalismo.